outubro 27, 2004

Tutores

Em Setembro passado assisti, por mero acaso, à matrícula de alguns alunos do 1º ano de História. Como vem sendo hábito desde que houve uma reestruturação do curso, alguns professores (os que estão mais abaixo na carreira) são “destacados” para dar apoio no momento dos alunos construírem os seus “curricula”. Muitos deles vinham acompanhados pelos pais, outros pelas namoradas. Acompanhantes muito activos, que com ar convicto iam dizendo ao aluno quais as disciplinas que deveria escolher.
Naquele dia lembrei-me da tal figura do tutor. Na verdade, parece-me um disparate. Por um lado defende-se a autonomia do jovem para tomar as suas decisões, por outro vemos os pais a dizer em que disciplinas se devem matricular. É óbvio que, ao longo do curso, o estudante deve recorrer aos docentes com quem sentir maior empatia ou confiança (ou outro motivo) para poder trocar impressões sobre o que quer que seja, ou pedir uma opinião no momento de tomar uma decisão. No entanto, a figura do tutor não deve ser imposta. Deverão haver “tutores” informais. Como aliás já vão havendo.
Defende JVC no seu livro "A universidade no seu labirinto" que
"devia ser obrigatória a figura do tutor, numa relação aluno-docente personalizada, em que o tutor não é um agente de ensino mas sim um guia e auxiliar da aprendizagem."
Quando fala do papel do tutor na educação, diz não falar só dos estudos. “O tutor é um guia de toda a formação intelectual. À refeição ou com umas cervejas no "pub", conversa-se sobre tudo, da filosofia às perspectivas de vida futura, dos valores ao comportamento, da politica até ao último filme ou livro interessante.” (ver texto de Março’04 do Professorices)
Esta imagem de JVC faz-me lembrar a do “professor porreiro”. Temos lá alguns, no Campo Alegre. Apreciados pelos alunos, sobretudo pelos mais novos. Alguns destes alunos mudam de opinião, um ou dois anos depois... Defendo que, na licenciatura, deve haver alguma distância entre aluno e professor. Os seus papeis são diferentes. O que se espera de ambos também o é. O que não significa que o professor deva colocar-se no cimo do estrado e comportar-se de forma arrogante ou excessivamente distante. Para que houvesse o tutor, tal como o define JVC, era necessário que todos os professores fossem pessoas humanamente excepcionais. Que existisse, por exemplo, um bom ambiente humano e profissional entre docentes da mesma casa. E isso existe?