abril 29, 2004

Professor fora, dia santo na Universidade?

Veremos isso amanhã...

Arquivos Distritais

Hoje vou falar dos arquivos que melhor conheço: os distritais. Em Portugal quase todos os arquivos distritais estão organicamente dependentes da Torre do Tombo. Mas existem excepções: em Coimbra e Braga estes arquivos pertencem às respectivas universidades, e em Guimarães o Arquivo Municipal tem competências de arquivo distrital na área do respectivo concelho. Os arquivos distritais são frequentados não só por investigadores, mas também por todos os cidadãos que procuram uma qualquer certidão dos livros paroquiais ou da conservatória do registo civil (ou outros), aqui depositados (livros com mais de 50 anos, se a memória não me engana).

Foi no Arquivo Distrital do Porto que me iniciei na investigação. Estava no 3º ano da faculdade quando uma professora nos propôs um trabalho prático (voluntário) a partir de fontes manuscritas. Obviamente que aceitei o desafio. Os livros notariais do séc. XVIII foram a primeira fonte com que tive contacto. Ainda hoje continuo a ter uma relação quase afectiva com aquela fonte. Sobretudo pelas memórias que me traz e por ter sido o "primeiro amor". À professora que nos iniciou na investigação (caso raro de trabalho com os alunos) ainda está por fazer a devida homenagem. Mas ela será feita... Bem, mas o que há a dizer sobre o funcionamento deste arquivo? Em termos gerais funciona de forma satisfatória. Os técnicos superiores de arquivo são muito competentes. Claro que, como na maior parte dos arquivos, continuam a faltar bons instrumentos de pesquisa. Mesmo assim, não me parece que se sonegue informação ou que se coloquem entraves à investigação.

Já a situação do Arquivo Distrital de Braga é diferente. Claro que apenas falo da minha experiência pessoal. Isso não pode ser esquecido por quem me lê. Em primeiro lugar não existe um guia geral do arquivo. Ou seja, ainda hoje não sei, verdadeiramente, que documentação lá existe. Mas sei que, infelizmente, certa documentação existe para uns, mas não existe para outros. Eu faço parte dos "outros", mesmo depois de ter confrontado os funcionários com casos concretos de outras pessoas que usaram determinado tipo de documentação cujo acesso me estava a ser negado. Ao ler o último número da revista "Cadernos do Noroeste" descobri mais um caso destes... Brevemente tenciono ir a Braga com o objectivo de esclarecer esta situção. Não gosto que brinquem com quem apenas quer trabalhar.

E por fim o Arquivo da Universidade de Coimbra. Depois de todos as dificuldades em Braga, refugiei-me em Coimbra. E tem corrido tudo muito bem. Aqui também faltam bons inventários, sobretudo para a documentação que não está relacionada com a universidade. Mas existe a boa vontade de todos os que lá trabalham. Recentemente a sua direcção mudou. Esperemos que para melhor. No entanto, sei que não basta o empenho da nova directora para alterar a situação em que o arquivo se encontra. Com uma assustadora falta de funcionários, ele tem algumas dificuldades em manter as portas abertas. Torna-se necessário pressionar a reitoria e outros responsáveis para que dignifiquem esta instituição. A sua riqueza documental merece que assim seja. Ficaremos todos a ganhar...

abril 28, 2004

Pelos arquivos da capital

A capital é, teoricamente, um paraíso para os investigadores da ciência histórica. A sorte de aprendiz de feiticeiro permitiu-me, nestes últimos dois anos, conhecer um grande número dos arquivos e bibliotecas de Lisboa. Na semana passada consegui cumprir o plano proposto e visitei alguns deles. Hoje vou destacar três.

A Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa possui uma instalações bastante curiosas. Cheira mesmo a velho, e o mobiliário faz-nos sentir noutra época. A mim fez-me sentir num século XX salazarento. No entanto, trata-se duma boa biblioteca, imprescindível para quem estuda, por exemplo, as antigas colónias. A funcionária que nos atende é bastante eficiente. Era bom encontrar gente assim lúcida e "despachada" noutras instituições.

Por exemplo, no Arquivo Histórico do Ministério das Obras Públicas. Aqui parece haver poucos "clientes", mas nem por isso as funcionárias sofrem menos de "stress". Não lhes perguntem nada. E, por favor, não trabalhem sozinhos com a máquina dos microfilmes: a funcionária tem que estar ao vosso lado (o que, como imaginam, nos faz sentir bastante à-vontade e permite a tranquilidade necessária para a leitura das escuras películas...).

Mas eis a pérola da nossa aventura pelos arquivos da capital: o Arquivo Histórico Ultramarino. Se querem viver uma experiência digna dum filme de ficção este é o local indicado. Lento, muito lento, lentíssimo. Não percebo... Os funcionários são bastante estranhos (não vou descrever) e desperdiçamos uma eternidade para ler meia dúzia de documentos. Tive que explicar ao funcionário que estava na sala de leitura que um microfilme não vinha em suporte de CD ou Disquete, o que ele percebeu depois de insistir comigo durante uns 10 minutos. Depois, demoraram 30 minutos para me darem uma factura do pedido de reproduções. Com a factura na mão fugimos dali e fomos apanhar o eléctrico, que, por acaso, terminou a marcha antes de chegar ao destino. Ninguém protestou. Ou melhor, ninguém protestou como o fariam no Porto.

Apesar de tudo, como eu gosto do que faço...

abril 27, 2004

Regresso

Depois de uma semana alargada de ausência, regressei a este espaço. Como alguns já repararam, já por cá ando há uns dias, mas sem vontade de escrever. Como este labirinto não é intimista, certos estados de espírito têm-me remetido para o silêncio...

E hoje é o dia ideal para falar dos arquivos locais em Portugal. Lembram-se de Vila do Conde? Comecemos então pelo princípio.

Em Portugal existem vários tipos de arquivos históricos, que podemos subdividir em dois grandes grupos: públicos e privados. De entre os públicos existem os arquivos municipais, os arquivos distritais e o arquivo nacional ou Torre do Tombo (que tem tutela sob a maior parte dos distritais). Como arquivos privados temos os familiares, empresariais, de misericórdias...

Mas hoje vou falar, como disse, dos locais/municipais. Em Portugal poucos são os municípios que têm os seus arquivos organizados e abertos ao público. Mas um programa do Ministério da Cultura (lançado sob o consulado de Carrilho, se não estou em erro) tem permitido alargar a rede destes arquivos.

Há uns dias falei-vos da velha alfândega do Porto e de um antigo hall de entrada em Vila do Conde. A velha alfândega, ou Casa do Infante, é onde está localizado o Arquivo Municipal do Porto, provavelmente um dos melhores do país. Possui uma documentação vastíssima, funcionários que apoiam os investigadores e trabalham para a organização e preservação da documentação, e tem à sua frente um grande profissional. Após as recentes obras, ficou ainda mais acolhedor. E enquanto o leitor folheia velhos documentos pode ir admirando o Douro...

Vila do Conde possui um arquivo municipal organizado, mas a sala onde podemos consultar os documentos é bastante reduzida e não é proporcionado ao leitor o silêncio necessário, já que no lugar duma antiga porta colocaram um vidro que comunica directamente para uma recepção dos serviços da câmara, ponto de passagem e até de conversa entre a recepcionista e por quem passa (e por quem permanece). Apesar de tudo, Vila do Conde não é dos piores exemplos. Além do mais, existe desde há uns meses, também no edifício da alfândega, junto ao Ave, um Centro de Documentação de Navegação Quinhentista, que é fruto do trabalho dos arquivistas e funcionários municipais, mas também, há que o dizer, resultado de longos anos de investigação que conduziram ao doutoramento de Amélia Polónia (professora da Faculdade de Letras do Porto), com a sua tese "Vila do Conde: um porto nortenho na expansão quinhentista."

No entanto, a maior parte das Câmaras Municipais não se interessa pelos seus arquivos (é familiar por quem anda nestas lides as velhas arrecadações fechadas ou os sótãos onde ninguém vai...). Assim, sem arquivos minimamente organizados e abertos ao cidadão, ficamos impossibilitados de realizar investigação histórica local e continuaremos a ter monografias locais com pouco rigor científico. Sobretudo, fica por conhecer a história e as histórias do país...

abril 18, 2004

Ausências

Não tenho andado com grande vontade de comunicar. Assim se justifica o facto de ter andado ausente do blogue. A isto junta-se o trabalho que tinha mesmo de ser feito. Havia que preparar uma estadia de quase uma semana em Lisboa, que se inicia amanhã. Eu e uma antiga colega de faculdade, agora companheira de trabalho, procuraremos ser turbo-investigadores percorrendo num tão curto espaço de tempo a Biblioteca Nacional, o Instituto Geográfico (antigo Inst. Geográfico e Cadastral), a Sociedade de Geografia de Lisboa, a Torre do Tombo, e, se se justificar e o tempo for suficiente, ainda daremos um salto ao antigo Instituto Marítimo Portuário (agora tem um outro nome mais complicado).

Mas o prazer que isto me dá... Preparar estas visitas, conhecer novos locais de saber (ou revisitar os que já conheço), percorrer ficheiros manuais ou informáticos, abrir caixas com papéis velhos, olhar para mapas antigos...

Procuro desfrutar as oportunidades que a Sorte tem colocado no meu percurso. Mas sei que um dia terei que regressar à realidade... Espero, porém, que ainda demore. Tenho tantas ideias que gostaria de ver concretizadas...

abril 15, 2004

Em breve...

...vou escrever sobre o que há em comum entre um hall de entrada em Vila do Conde e um velho edifício alfandegário no Porto.

Fuga de cérebros II

A medida apresentada pelo MCES irá produzir efeitos. Quando a Sra ministra sair do governo irá concorrer ao programa que ela própria criou. Tudo indica que preenche os requisitos necessários. Assim, evita-se a fuga deste genial cérebro do nosso país.

Entretanto, convido a Sra Ministra a explicar publicamente quer esta sua acção governativa, quer as outras que tem em mente (pelos vistos só mesmo em mente...).

Aproveito o tom de peditório, para lhe perguntar se viu o seu colega do Palácio da Ajuda?

abril 14, 2004

Balanço do MCES

O Ministério da Ciência e Ensino Superior apresenta, no seu sítio da internet, as medidas que foram tomadas nestes últimos dois anos. Com o objectivo de realizar um serviço público neste blogue, publicito aqui o balanço do MCES:

1 – Ciência
- Lançamento da Iniciativa Estratégica “Conhecimento e Inovação”, com o Programa Operacional “Ciência e Inovação” ( “Ciência 2010”) e Sociedade do Conhecimento (“Futuro 2010”);
- Aprovação da Proposta de Lei relativa ao Estatuto do Mecenato Científico;
- Revitalização do Conselho Superior de Ciência, Tecnologia e Inovação;
- Acompanhamento da criação de um centro da ESA na ilha de Santa Maria, nos Açores;
- Aprovação, em conjunto com os Ministérios das Finanças e da Economia, do Regulamento de Execução do Sistema de Incentivos à Modernização Empresarial – INOVAÇÂO;
- Acordo de Cooperação entre a República Portuguesa e a República de Cabo Verde, nos domínios do Ensino Superior, Ciência e Tecnologia;
- Acordo de Cooperação Científica e Tecnológica entre a República Portuguesa e o Reino de Espanha;
- Acordo de Cooperação entre a República Portuguesa e a República de Moçambique, nos domínios do Ensino Superior, Ciência e Tecnologia;
- Aprovação do Regulamento de Bolsas de Doutoramento em Empresas;
- Lançamento, em conjunto com a Presidência do Conselho de Ministros, do Programa Especial de voluntariado jovem na saúde;
- Participação na Missão “Jason-2”, para lançamento de um satélite de monitorização climatérica;
- Definição da nova política para a biotecnologia.

2 – Ensino Superior
- Aprovação da Proposta de Lei de Bases da Educação;
- Aprovação da Proposta de Lei da Autonomia das Instituições de Ensino Superior;
- Aprovação da Proposta de Lei de Bases do Financiamento das Instituições de Ensino Superior;
- Aprovação do Regime Jurídico do Desenvolvimento e Qualidade do Ensino Superior;
- Aprovação do novo regime de acesso ao ensino superior;
- Ciclo básico de Medicina nos Açores e Madeira;
- Definição da Reforma do Sistema de Acção Social;
- Definição da Implementação do Processo de Bolonha;
- Criação do Conselho Consultivo do Ensino Superior.

abril 13, 2004

Fuga de cérebros

Hoje acordei, eram umas 7h, a ouvir a TSF. Ainda meio a dormir, qual não é o meu espanto que, como notícia de abertura, falam sobre ciência e investigação e ouço a nossa ministra da Ciência e Ensino Superior. As únicas palavras que retive ao longo do dia foram "fuga de cérebros", "jovens investigadores" (aqui com dúvidas se terei ouvido bem por causa da 3ª expressão que fixei) e "cem artigos publicados em revistas internacionais". Ao chegar a casa encontrei a notícia no sítio do Público (já que para aceder ao da TSF teria que ser cliente dum sapo, imagine-se). Não vos deixo o link, já que a notícia é curta (verdade oficial, já que a verdade efectiva é que ainda não sei fazer isso):

O Governo vai anunciar hoje o novo modelo de financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia, cuja principal novidade são as formas de combate à "fuga de cérebros" de Portugal. O Ministério da Ciência e do Ensino Superior vai pagar as despesas de investigação aos doutorados "com grau de excelência", portugueses ou estrangeiros, que se fixem em Portugal. Os cientistas portugueses que optem por ficar ou regressar a Portugal recebem o dobro.

As novas normas, que a tutela deve divulgar hoje no seu sítio na Internet, são avançadas pelo "Diário de Notícias", que indica que a medida entra em vigor já a 1 de Julho.

Para poder concorrer a estes incentivos, os investigadores devem ter já publicado pelo menos cem artigos em revistas científicas internacionais e ter sido coordenadores de pelo menos dez outros doutoramentos. Estas condições aplicam-se tanto a investigadores portugueses como a estrangeiros. Mas no caso de portugueses radicados no estrangeiro, o Ministério da Ciência e do Ensino Superior propõe bolsas de retorno, em que serão pagas as despesas de investigação a 200 por cento.

A ministra da Ciência e do Ensino Superior, Maria Graça Carvalho, indica que os critérios vão limitar o número de cientistas abrangidos, mas acredita que entre cem e 200 investigadores poderão beneficiar dos incentivos.

Esta é a notícia. Parece bem, não é? Mas reparem que tudo à volta permanece na mesma. Criam-se óasis permanecendo tudo o mais igual? Um investigador, por melhores condições (pessoais/individuais) que lhe sejam oferecidas, estará interessado em trocar um ambiente competitivo e estimulante que terá encontrado no exterior, pelos nossos laboratoriozinhos?

Durante o dia estive em Vila do Conde, no arquivo municipal. O retrato dessa realidade (a dos arquivos portugueses) será, sem dúvida, aqui tratada um destes dias. Mesmo que a Cassandra não queira...

abril 12, 2004

Mudança

Como podem reparar, O Fio de Ariana tem uma nova imagem. Espero que este "labirinto" seja agora mais acolhedor. Para além da mudança gráfica, foram introduzidas pequenas alterações: um texto introdutório e uma nova assinatura.

Pretendo ainda que o conteúdo sofra suaves alterações, sem nunca esquecer o propósito para que este espaço foi criado. Poderá vir a ter um carácter mais pessoal, com pequenas crónicas a propósito da minha actividade enquanto aprendiz de investigação.

Por último, um agradecimento ao responsável pela nova imagem: o Prof. João Vasconcelos Costa. A ele o meu obrigado.

Amanhã estarei aqui:

Ensino ou Investigação?

As duas últimas décadas viram multiplicar-se em Portugal o número de universidades. As universidades públicas, em particular, têm visto o seu nascimento dar lugar a um considerável desenvolvimento local, em cidades como Braga, Aveiro, Vila Real e Évora. Além do apoio próximo às actividades económicas locais, estas universidades permitiram um grande aumento do número de estudantes no ensino superior. Mas o objectivo das universidades públicas no sistema nacional de investigação científica assenta num equívoco: a ideia de que é possível ao mesmo tempo atingir a mais alta projecção internacional e garantir uma "qualidade" uniforme entre universidades. Perseguindo esse equívoco, tem-se vindo a financiar as universidades públicas de acordo com um rácio alunos/docentes, ignorando de facto o desempenho da universidade no campo da investigação científica. (...)

Portugal (...) tem um total de 23 universidades, das quais 15 públicas. A linha de pensamento mais corrente entre nós procura fazer crer que estas 15 universidades públicas têm todas como objectivo competir com as melhores do mundo pela sua investigação de nível internacional. Esta ideia ignora a realidade das universidades portuguesas e a realidade da investigação internacional.

Consideremos alguns dos componentes necessários para colocar e manter uma universidade no topo do "ranking" internacional. Primeiro, com base na informação disponível das universidades de topo, são exigidos cerca de 250 mil a 500 mil euros/ano por docente para despesas de investigação. Segundo, os custos associados a bibliotecas para sustentar uma investigação científica de qualidade situam-se em cerca de 500 euros por aluno. Terceiro, os docentes leccionam, por semestre, apenas três a seis horas por semana, o que significa mais docentes para um mesmo número de alunos. O tempo restante é dedicado à investigação. Tudo isto arrasta custos bastante elevados. Quem paga? Nos EUA, as universidades de investigação públicas obtêm apenas 45 por cento das suas receitas de fundos governamentais. Uns 25 por cento resultam de vendas de serviços, 20 por cento de propinas e aproximadamente 10 por cento de mecenato. Em Portugal, 92 por cento das receitas têm origem no Estado. As universidades portuguesas dependem quase exclusivamente do governo, podendo ignorar o mercado (a quem não vendem produtos ou serviços), ser distraídas com os estudantes (que pagam propinas simbólicas) e passar ao lado da sociedade civil (que não a patrocina). Naturalmente, este comportamento tem consequências. (...)

Reexamine-se então o papel das universidades públicas e do Estado português no seu financiamento. Não se poderá ignorar dois factos basilares. Sem um aumento substancial do financiamento privado (pelas empresas, pelos alunos e pela sociedade em geral) não haverá diferença nem qualidade. Mais importante, depois de garantido que o Estado, por si só, não validará todo e qualquer projecto universitário, deixemos as universidades procurar a sua vocação, marcando a sua diferença no contínuo entre ensino e investigação. O que resultará não será menor qualidade das universidades, mas universidades com qualidades diferentes. Se no fim deste processo conseguirmos três universidades (três!) de investigação de renome mundial, então ganhámos a batalha da investigação.

Excertos de um artigo de opinião de Paulo Ferreira, publicado no Público de 12/04/2004. A ler na íntegra.

abril 10, 2004

Vem aí a Hora da Mudança...

abril 09, 2004

Sei

Sei que o que aqui escrevo em nada contribuirá para modificar a Universidade. As minhas palavras não têm qualquer influência no legislador. A minha voz não se faz ouvir nas salas de reuniões de uma qualquer faculdade.

Mas continuo a escrever. Mas continuo a trocar ideias com quem por aqui passa. Porquê? Da universidade não espero proveitos pessoais. Não faço parte dos seus homens e mulheres. Da Universidade espero que seja um espaço que contribua de forma decisiva para o desenvolvimento do meu País. Da Universidade espero que seja um centro promotor da Democracia, do Saber, do Pensamento. Deixar de acreditar na Universidade, seria deixar de acreditar no País. Enquanto cidadão, mesmo que as minhas palavras não tenham qualquer força, fica o contentamento de ter a liberdade de pensar...

abril 07, 2004

O Fio na Páscoa

Nos próximos dias provavelmente não serei muito assíduo. Amanhã, depois de uma sessão de trabalho, a tarde será passada na cidade que me criou algumas barreiras "científicas", mas de onde recebo convites periódicos para um almoço, um jantar ou um simples lanche. Sei que será uma tarde bem passada.

Desemprego

O emprego científico em Portugal está bloqueado e há um número crescente de jovens doutorados que têm que sair do País para trabalhar em investigação noutros Estados europeus e nos EUA. O alerta é do Conselho dos Laboratórios Associados (CLA) - conjunto de centros de investigação de referência -, que não hesita em considerar o fenómeno como emigração de talentos, ou fuga de cérebros, com as perdas que isso implica para o País.

Desencadear um debate público sobre o problema e propor medidas para inverter a tendência é o objectivo do CLA, que fez um estudo exaustivo sobre a questão e o enviou já para várias entidades e responsáveis nesta área, como a ministra da Ciência e do Ensino Superior, Graça Carvalho, o presidente da República, os sindicatos ou a Associação Bolseiros de Investigação Científica, entre outros.

«É preciso corrigir e inverter muito rapidamente os factores de bloqueio», afirma João Sentieiro, investigador e secretário do CLA, sublinhando que «há medidas concretas que podem ser tomadas».

Entre elas estão, de acordo com o conselho dos LA, o descongelamento da admissão de novos investigadores nos Laboratório de Estado, cujos quadros estão envelhecidos e têm simultaneamente inúmeros lugares em aberto; a contratação de novos doutores por parte das universidades, que nesse domínio se encontram bloqueadas há quase uma década; ou ainda a retoma dos incentivos fiscais para as empresas com actividades de Investigação e Desenvolvimento. «Esta última seria uma forma indirecta de motivar as empresas para a contratação de pessoas qualificadas para a inovação tecnológica», explica João Sentieiro.

A formação de novos doutorados sofreu uma explosão a partir de 1987 em Portugal, e fez quadruplicar o número de doutorados no País - inseridos, nomeadamente, no sistema científico. E, embora essa realidade não seja ainda comparável à média europeia, «os actuais bloqueios não permitem a inserção destas pessoas altamente qualificadas justamente onde elas são necessárias», diz o secretário do CLA.

In Diário de Notícias (07/04/2004)

abril 06, 2004

Republicação

A discussão no Professorices a propósito da universidade de élite, fez-me ir à arca buscar um assento com um mês (2 de Março) e voltar a publicá-lo aqui, agora que julgo ter mais leitores. Estive tentado a reescrevê-lo, pois tenho algumas dúvidas se conseguirei passar a mensagem pretendida (na altura ninguém comentou). Mas optei por não o fazer. Aqui fica, então...

Fechem a Universidade!

A Universidade (pública) tem sido objecto, nos últimos anos, de profundas... preocupações financeiras. Os alunos protestam contra as propinas, os professores pelas restrições orçamentais. Sobretudo agora que algumas instituições ameaçam com despedimentos de docentes.
Entretanto multiplicaram-se os cursos, quer nas universidade privadas, quer mesmo nas públicas. Internamente, ocorreram divisões: criaram-se novos departamentos, a que não correspondem novas áreas científicas. Na ânsia duma escalada rápida na carreira atropelaram-se (e continuam) uns aos outros. Em alguns casos, diminui-se a exigência para não ver os alunos, a meio do curso, "fugirem" para instituições privadas ou até para outras públicas (!), onde sabiam que iriam ver as suas médias subirem.
Entretanto... entretanto pensou-se pouco sobre a Universidade. Pensou-se pouco na empregabilidade de determinados cursos, mas sobretudo nas competências que deveriam proporcionar.

Ultimamente tem-se falado de Bolonha. Por vezes para criticar o elevado grau de exigência de, por exemplo, alguns cursos de mestrado e pelo investimento pessoal que alguns fazem, enquanto "lá fora" se passa directamente para o doutoramento (e aqui também...). Daqui a uns anos a licenciatura vale tanto como a antigo 12º ano do Secundário e o Doutoramento aos antigos Mestrados.

Fechem a Universidade! Encerrem cursos, despeçam professores, dinamitem algumas instalações. Fechem a Universidade para balanço. Ou seja, REFORMEM verdadeiramente a universidade. De forma séria. Não em cima dos joelhos e com medo.

Pensemos todos a Universidade!

Universidade Nova: a melhor de Portugal?

A Universidade Nova de Lisboa situa-se algures entre os lugares 351 e 400 do "Ranking Académico das Universidades do Mundo 2003" realizado entre os anos de 2000 e 2003 pelo "Institute of Higher Education", no Japão, e é a única universidade portuguesa mencionada no estudo.

No topo da lista das "500 melhores do mundo" encontra-se a Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. As instituições de ensino superior da América do Norte ocupam os primeiros lugares deste "ranking", que não menciona qualquer universidade do continente africano.

O estudo, baseado na análise de cerca de 2000 universidades, utiliza como indicadores os prémios Nobel em física, química, medicina e economia, os investigadores da universidade mais citados nas áreas de ciências da vida, medicina, ciências físicas, engenharia e ciências sociais, os artigos publicados sobre natureza e ciência, os artigos realizados sobre ciências naturais e ciências sociais e a "performance" académica.

A universidade europeia melhor posicionada é a de Cambridge, no Reino Unido, que aparece em quinto lugar. Na Ásia/Pacífico, lidera a universidade de Tóquio, no 19º lugar. Este trabalho de investigação pode ser consultado na Internet (ed.sjtu.edu.cn/ranking.htm).

In Público (06/04/2004)

Há uns dias, discutia-se no Professorices precisamente acerca do ranking das Universidades. Segundo este estudo do Público, a Universidade Nova, é, portanto, a melhor universidade do país. Que eles têm a mania que são bons eu já sabia (estou a ser mauzinho). Falando agora a sério. Ainda não li o estudo em pormenor, nem sei se terei paciência para o ler, mas sugiro que os interessados o façam, pelo menos para conhecerem os critérios utilizados. Seria positivo que todos os docentes universitários o lessem, e que estimulasse a competividade inter-universidades portuguesas. Já seria um avanço. Mas também vos digo uma coisa: não me considero inferiorizado por não ter estudado na Nova. Não tive professores-estrelas de televisão, mas nem por isso os considero piores do que os seus pares de Lisboa. Bem, deputados temos dois...

abril 05, 2004

Positivo

Para contrabalançar com a onda de pessimismo que por aí anda, decidi, já a terminar o dia, deixar aqui esta pequena notícia. Deixo os comentários para os leitores deste blogue.

Sete alunos da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) estão envolvidos no desenvolvimento e construção de dois micro-satélites a lançar no espaço em 2005 no âmbito de um projecto europeu.

Intitulado Student Space Exploration and Tecnologie Iniciative (SSETI), o projecto é liderado pela Agência Espacial Europeia (ESA) e visa o desenvolvimento, construção e lançamento de micro-satélites com menos de 120 quilos.

O projecto envolve a parceria de 21 universidades de nove países - entre as quais a Universidade do Porto, representada pela FEUP desde 2001 - cabendo a cada uma desenvolver um subsistema referente ao satélite.

Segundo refere a FEUP, a equipa é constituída por dois alunos de mestrado em Engenharia Mecânica, um aluno do 5º ano, outro do 4º, dois do 3º e uma aluna do 2º ano de Engenharia Mecânica.

António Melro, um dos estudantes envolvidos no projecto, explicou que depois de terem tido conhecimento da iniciativa pela Internet, os jovens sugeriram a participação à universidade. O contacto com os restantes 20 estabelecimentos de ensino que integram o projecto SSETI é feito via Internet, correio electrónico, «chats», teleconferência e videoconferência. Duas vezes por ano, referiu António Melro, decorrem «workshops» na Holanda, onde está sedeado o centro de investigação.

Segundo António Melro, a missão do SSETI Express é testar um novo sistema de propulsão, recentemente desenvolvido, e validá-lo para futuras viagens espaciais, nomeadamente à Lua.

Outro dos projectos em que a equipa da FEUP está a trabalhar é o satélite European Student Orbit (ESEO), a lançar no final de 2005 a bordo do foguetão Ariane 5.

Aos estudantes portugueses cabe fazer a análise e desenvolvimento da respectiva estrutura, o que implica um estudo prévio do satélite e das condições que acompanharão o seu lançamento, de forma a seleccionar os materiais a utilizar.

abril 03, 2004

Recuperação



Se passar por lá hoje não a poderá apreciar. A Sé Velha de Coimbra está a ser sujeita a obras de recuperação.

Estou ansioso por poder olhar novamente para aquelas paredes...

Bolonha e os dirigentes associativos

Diz o MJMatos, no Que Universidade: "Nos últimos tempos, os dirigentes estudantis descobriram o processo de Bolonha. Qual a preocupação imediata? Quem paga!"

Acho que desta vez não está a ser completamente justo com os dirigentes associativos. As preocupações do presidente da AAC (vd, neste blogue, assento anterior) fazem algum sentido. Se a formção de 3+2 avançar, sendo 2 o número de anos do mestrado, um maior número de estudantes não pretenderá ficar com apenas 3 anos de formação. Até por uma questão de mentalidades e de competividade. Assim sendo, continuarão os mestrados a ter o mesmo valor de propinas que hoje têm, ou passar-se-á a pagar uma propina idêntica à de licenciatura? E a acção social escolar, abrangerá os novos mestrados?

O silêncio da Ministra...

O presidente da Associação Académica de Coimbra (AAC), Miguel Duarte, exigiu esta semana do Governo, uma tomada de posição "imediata" sobre o processo de internacionalização do ensino superior. "Vamos ter dois ciclos: o das licenciaturas, que nada valem, e o ensino pós-graduado que, a ser como hoje, liquida o ensino superior de forma mais escandalosa", declarou ao PÚBLICO Miguel Duarte. Desta forma, a AAC pretende "lançar um ultimato" à Ministra da Ciência e do Ensino Superior, Maria da Graça Carvalho, para que se pronuncie sobre o referido processo, nomeadamente no que respeita aos encargos futuros das pós-graduações.

In Público (03/04/2004)

É bom saber que os estudantes não se preocupam só com o problema do valor das propinas. Assim, seria muito importante que a Sra Ministra respondesse a este apelo dos estudantes, até porque todos, alunos, professores e cidadãos em geral, gostaríamos de saber mais acerca das mudanças em curso.

Ensino tecnológico

"Matou-se o ensino técnico profissional licenciando-o". A acusação foi proferida ontem, em Beja, pelo ministro da Educação, David Justino, lembrando aos professores da Escola Secundária D. Manuel I que os cursos tecnológicos "têm sido vistos como uma alternativa para colocar os alunos que se consideram menos capazes". O governante associa a desactivação do ensino tecnológico "à mais elevada taxa de abandono escolar da Europa", que considera "a maior chaga social do nosso país".

(...)

Nos últimos 30 anos "a sociedade democrática só formou doutores e engenheiros", observa o ministro, frisando que esta opção "não passou de uma ilusão que lançou no desemprego milhares de jovens". A falta de interesse pelo ensino tecnológico deriva do facto de ele "ser pouco atractivo para os jovens. Só um pequeníssimo número dos que o frequentam é que acede ao ensino superior. Temos que reconhecer os erros", assinala David Justino.

Para inverter este cenário de insucesso escolar, o governante defende a regeneração de 15 a 20 antigas escolas comerciais e industriais disseminadas por todo o país, vocacionando-as para o ensino tecnológico. Contudo, este projecto deve passar por uma ligação às empresas e às autarquias, para que sejam estas entidades a "definir o perfil dos técnicos que necessitam". Mas, se as empresas não aderirem, "não podem depois queixar-se de não ter mão-de-obra qualificada", observa o ministro...

In "Público" (03/04/2004)

Este "discurso" do Ministro da Educação parece-me positivo. Resta agora esperar que tenha efeitos práticos e que se aposte no ensino técnico.

abril 02, 2004

Medicina Católica

O Governo vai criar um órgão para avaliar e acreditar os hospitais universitários. Uma estrutura que deverá «vigiar» os serviços de saúde que desenvolvam actividades de ensino e regular a articulação entre os hospitais e as faculdades de Medicina.

Reina a confusão nas relações entre universidades e hospitais, e esta é uma das medidas previstas no projecto de diploma que regula o funcionamento dos hospitais universitários, a que o Diário Económico teve acesso.

O diagnóstico feito pelo Governo revela que «a legislação não tem sido suficiente clara, nem explícita». No preâmbulo do diploma escreve-se que existe «uma dicotomia de funções e uma bicefalia de responsabilidades, inadequadas e contraditórias tendo em conta a natureza e o objectivo complementar e a vocação de ambas as entidades que urge ultrapassar». Considera-se ainda «indispensável identificar as questões, que, no quadro das relações entre os serviços de saúde e as faculdades, deverão figurar nos protocolos».

Homologação pela Saúde e Ensino Superior
O ante-projecto prevê que sejam assinados protocolos de colaboração entre os hospitais e as faculdades de medicina, que terão que ser homologados pelos ministérios da Saúde e Ciência e Ensino Superior. O acompanhamento da execução dos protocolos será feito por uma comissão mista.

Os protocolos devem, entre outras coisas, definir os «encargos financeiros previstos com os elementos do pessoal médico envolvido no ensino ou na investigação biomédica e clínica» e «as compensações financeiras que os estabelecimentos de ensino ficam obrigados mensalmente às entidades prestadoras de cuidados de saúde, que incluem os encargos previstos com as despesas de conservação e de beneficiação de instalações partilhadas».

Parcerias com órgão de coordenação
Este órgão de coordenação deverá ser constituído pelos presidentes dos conselhos de administração dos hospitais, os directores clínicos e os presidentes dos conselhos directivos e científicos das faculdades. Uma estrutura que terá ainda como função promover uma «utilização racional dos recursos disponíveis, coordenar a interligação funcional dos estabelecimentos de ensino, definir a correspondência entre as áreas científicas e os serviços já criados».

Este regulamento permite que a «designação universitário» pode ser conferido «a qualquer estabelecimento ou entidades (…) que participem nas entidades de ensino, e sejam parte contratante de um protocolo». «A participação da totalidade ou maioria dos serviços em actividades de ensino, concede este estabelecimento de ensino a designação de «hospital com ensino universitário», e aos serviços, departamentos e unidades funcionais a designação de «serviço ou clínica universitária».

O regulamento permitirá à Universidade Católica, construir a sua a Faculdade de Medicina em Sintra e estabelecer um protocolo com o futuro hospital na região de Sintra, a construir em regime de parceria público – privados.

Os estabelecimentos deverão «cooperar para que a investigação e o ensino universitário possam ser utilizados numa melhoria progressiva na prestação dos mesmos cuidados (…) coordenando as actividades docentes com as assistenciais de forma a rentabilizar recursos humanos e financeiros».

In Diário Económico (29/03/2004)

abril 01, 2004

Universidade em Bragança?

Dois anos depois da Comissão Pró-Universidade de Bragança ter enviado para a Assembleia da República (AR) uma petição com mais de 15 mil assinaturas, o documento vai finalmente subir a plenário. A discussão está marcada para amanhã e os vários grupos parlamentares vão ser chamados para clarificarem posições sobre uma reivindicação que começou no início da década de 90 e que tem sido bandeira de campanha eleitoral de vários partidos. Os deputados eleitos pelo distrito apresentaram em momentos diferentes e com diferentes governos três projectos de decreto-lei, para a criação da universidade, mas nenhum mereceu aprovação. "Desta vez acreditamos que as condições que o próprio Instituto Politécnico de Bragança (IPB) reúne, em relação às instalações, credenciação do pessoal docente e número de alunos são diferentes. O IPB evoluiu e por isso acreditamos que estão reunidas as condições para a criação da Universidade" insiste Jorge Nunes, líder deste movimento reivindicativo.

"O IPB tem sido a nossa indústria, a evolução do ensino superior tem sido o facto mais relevante no desenvolvimento de Bragança", sustenta. O presidente do IPB, Dionísio Gonçalves, defende reiteradamente que "a universidade já existe por dentro", argumentando que o número de professores com grau de mestre e doutor não pára de crescer.

A juntar à evolução do IPB existe a famosa promessa de Durão Barroso que, em tempo de campanha eleitoral, afirmou que se o PSD chegasse ao Governo, "mesmo contra a opinião dos tecnocratas do partido", o IPB passaria a universidade "ainda durante esta legislatura". Dois anos já passaram e Bragança ainda não recebeu nenhum sinal das intenções do primeiro-ministro honrar o compromisso.

Se da discussão na AR resultar uma recomendação positiva, Nunes acredita que poderá ser mais um contributo para que a universidade se torne uma realidade.


In "Público" (01/04/2004)

Por que é que existe esta vontade tão grande em transformar o Politécnico em Universidade? Trata-se apenas de uma mudança de título? Sentir-se-ão os dirigentes dos Politécnicos inferiorizados em relação às Universidades? Que vantagens surgem com a mudança? Qual é a principal razão que invocam para essa reivindicação? Rivalidades com Vila Real? Viremos a ter uma Universidade por distrito? E Viseu?