Depois de uma semana alargada de ausência, regressei a este espaço. Como alguns já repararam, já por cá ando há uns dias, mas sem vontade de escrever. Como este labirinto não é intimista, certos estados de espírito têm-me remetido para o silêncio...
E hoje é o dia ideal para falar dos arquivos locais em Portugal. Lembram-se de Vila do Conde? Comecemos então pelo princípio.
Em Portugal existem vários tipos de arquivos históricos, que podemos subdividir em dois grandes grupos: públicos e privados. De entre os públicos existem os arquivos municipais, os arquivos distritais e o arquivo nacional ou Torre do Tombo (que tem tutela sob a maior parte dos distritais). Como arquivos privados temos os familiares, empresariais, de misericórdias...
Mas hoje vou falar, como disse, dos locais/municipais. Em Portugal poucos são os municípios que têm os seus arquivos organizados e abertos ao público. Mas um programa do Ministério da Cultura (lançado sob o consulado de Carrilho, se não estou em erro) tem permitido alargar a rede destes arquivos.
Há uns dias falei-vos da velha alfândega do Porto e de um antigo hall de entrada em Vila do Conde. A velha alfândega, ou Casa do Infante, é onde está localizado o Arquivo Municipal do Porto, provavelmente um dos melhores do país. Possui uma documentação vastíssima, funcionários que apoiam os investigadores e trabalham para a organização e preservação da documentação, e tem à sua frente um grande profissional. Após as recentes obras, ficou ainda mais acolhedor. E enquanto o leitor folheia velhos documentos pode ir admirando o Douro...
Vila do Conde possui um arquivo municipal organizado, mas a sala onde podemos consultar os documentos é bastante reduzida e não é proporcionado ao leitor o silêncio necessário, já que no lugar duma antiga porta colocaram um vidro que comunica directamente para uma recepção dos serviços da câmara, ponto de passagem e até de conversa entre a recepcionista e por quem passa (e por quem permanece). Apesar de tudo, Vila do Conde não é dos piores exemplos. Além do mais, existe desde há uns meses, também no edifício da alfândega, junto ao Ave, um Centro de Documentação de Navegação Quinhentista, que é fruto do trabalho dos arquivistas e funcionários municipais, mas também, há que o dizer, resultado de longos anos de investigação que conduziram ao doutoramento de Amélia Polónia (professora da Faculdade de Letras do Porto), com a sua tese "Vila do Conde: um porto nortenho na expansão quinhentista."
No entanto, a maior parte das Câmaras Municipais não se interessa pelos seus arquivos (é familiar por quem anda nestas lides as velhas arrecadações fechadas ou os sótãos onde ninguém vai...). Assim, sem arquivos minimamente organizados e abertos ao cidadão, ficamos impossibilitados de realizar investigação histórica local e continuaremos a ter monografias locais com pouco rigor científico. Sobretudo, fica por conhecer a história e as histórias do país...