Maria era daquelas alunas que ia sempre às aulas e se sentava na primeira fila. Ainda que chegasse sempre entre 30 a 60 minutos atrasada às primeiras aulas da manhã. Procurava escrever tudo o que o professor dizia, e sempre que este indicava a bibliografia a ler ela saía mais cedo da aula, com mais duas colegas, e corriam para a biblioteca para requisitar os livros todos.
Quando chegavamos à altura de frequências/exames, Maria revelava uma patologia grave. Era provavelmente a primeira aluna a chegar à faculdade no dia da frequência. Pelas 7h30m lá estava ela (as frequências eram às 9h30). Depois de consultar o mapa da distribuição das salas onde iria decorrer a frequência, marcava o seu lugar na última mesa do lado esquerdo, junto à janela. Nesse dia (quer fosse em Janeiro ou em Julho) trazia um blusão azul. Interrogada, dizia estar constipada. Coitada, quatro anos com constipações em Janeiro/Fevereiro e Maio/Junho. E prolongadas. Maria tinha uma patologia grave: copiava compulsivamente, e todo o seu “estudo” ao longo do ano era planeado tendo como fim a elaboração de “copianços”. Mesmo outros colegas que lá iam copiando uma coisa ou outra, olhavam para a Maria de forma diferente. Ninguém achava aquele tipo de comportamento normal. Maria nunca foi surpreendida a copiar por nenhum professor. Chegou ao fim do 4º ano com média de 14. Sei que durante o estágio pedagógico (5º ano) apresentou vários atestados médicos. Sei que em Setembro do ano em que terminara o estágio não tinha conseguido entregar o trabalho de “seminário”, ao contrário de todos os outros colegas. Sei ainda que o dossiê (com materiais que os estagiários utilizam nas aulas, incluindo os planos de aula) da Maria não era dela...
Não soube mais nada da Maria. Espero que esteja tudo bem com ela. E que seja feliz.