junho 22, 2004

O evidente

A escrita de uma tese ou um artigo de investigação levanta-me sempre problemas. Depois de meses a ler o que os outros escreveram, depois de longas permanências nos arquivos a contactar com as fontes, depois de alguns dias ou semanas a tratar a informação recolhida... chegada a altura de escrever as conclusões, tenho sempre a sensação que escrevendo uma única frase já estou a dizer tudo o que há para dizer. Esqueço-me que o que para mim já é tão evidente e tão claro, não o é para quem for ler o que escrevo. Quem lê, só tem o texto do autor, não as suas intenções, nem o não-dito, mas pensado.

Outra tentação é apenas descrever, narrar, deixando a análise para o leitor. Como se ele soubesse por que é que escrevemos aquela frase e não outra. Ou então silenciarmo-nos, e citando uma fonte, como se ela dissesse tudo aquilo que queremos dizer. Escrever ciência é mais do que isso. É problematizar, é procurar explicar, compreender... É uma verdadeira aventura, quer se trate de descobrir os segredos da genética ou os da sacristia.