novembro 16, 2004

Eis a notícia...

Um grupo de alunos da Faculdade de Letras da Universidade do Porto exibiu ontem uma faixa e foi lido um comunicado protestando contra a instalação de câmaras de vídeovigilância nos espaços comuns e nas salas de aula, contra as propinas e últimas medidas do Governo para o ensino superior, durante a sessão solene de abertura oficial do ano lectivo 2004/2005, em que esteve presente o reitor da UP, José Novais Barbosa.

Mas nem tudo foi pacífico, já que meia dúzia de seguranças privados impediram, durante algum tempo, a entrada dos alunos, revistando-lhes as mochilas e confiscando-lhes os comunicados.

Uma equipa de reportagem da RTP, liderada pela jornalista Ana Felício, que se encontrava no edifício para outra reportagem, aproximando-se quando se apercebeu do interesse noticioso da confusão gerada, foi violentamente impedida de entrar na sala e de colher imagens, pelos mesmos seguranças e a mando da própria vice-presidente do conselho directivo da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Conceição Pereira, que alegou falta de autorização para o efeito.

Diga-se que a RTP, tal como o COMÉRCIO e outros órgãos de comunicação social, receberam convites enviados pelo gabinete de imprensa da Universidade do Porto para se fazerem representar nesta sessão.

Quanto aos alunos, acabaram por exibir a faixa e ler o comunicado, acusando o conselho directivo da faculdade e a reitoria da UP de serem "uma extenção do Governo". E protestaram contra "o aumento das propinas, a expulsão dos estudantes dos órgãos de gestão, as leis da Autonomia e do Financiamento". A sessão prosseguiu com a catedrática Ana Maria Brito a proferir a tradicional Lição de Sapiência, intitulada "Línguas e Literaturas: da crise à esperança", e os melhores alunos do ano passado a receberem prémios e bolsas de mérito.

Reitor entende que alunos se manifestem
O reitor da Universidade do Porto, Novais Barbosa, considerou ontem que "não é normal esta forma de manifestação dos alunos, mas por que havemos de contrariá-la? Penso que as pessoas se devem manifestar e não devem ser impedidas de o fazer".

Novais Barbosa demarcou-se, assim, da tentativa de barrar o acesso ao auditório nobre aos alunos que pretendiam manifestar-se.

Quanto à instalação de câmaras de videovigilância nos espaços comuns e nas salas de aula da Faculdade de Letras, o reitor da UP ressalvou não conhecer os contornos do processo, mas lembrou que "há regras e estes sistemas têm de ser aprovados pela Comissão Nacional de Protecção de Dados".

A presidente do conselho directivo, Ana Monteiro, instada pelos representantes da comunicação social presentes a comentar a situação, esquivou-se sucessivamente a prestar declarações, optando por se afastar em passo acelerado.

In Comércio do Porto, 11/11/2004