fevereiro 28, 2004

Prolegómenos (III)

Nas cidades em que se formam, as universidades manifestam, pelo número e qualidade dos seus membros, uma força que inquieta os demais poderes. [...] Contra os poderes laicos e antes de mais contra o poder real. Os soberanos procuravam apoderar-se das corporações que traziam riqueza e prestígio ao reino, que constituíam um viveiro onde iam recrutar oficiais e funcionários. Aos habitantes de seus estados que eram os universitários das cidades do reino pretendiam eles impor uma autoridade que, com os progressos da centralização monárquica do século XIII, tornavam cada vez mais pesada aos seus súbditos. Em Paris, a autonomia da Universidade é definitivamente adquirida após os acontecimentos sangrentos de 1229, que envolveram os estudantes e a polícia real. [...] A maior parte da Universidade entra em greve e retira-se para Orléans. Durante dois anos não há praticamente aulas em Paris. Só em 1231 S. Luís e Branca de Castela reconhecem solenemente a independência da Universidade [...].
Mas também lutas contra o poder comunal. Os burgueses da comuna irritam-se ao verem a população universitária escapar à sua jurisdição, inquietam-se com a agitação, as rapinas [...] Em Oxford, é depois do enforcamento arbitrário de dois estudantes pelos burgueses, exasperados pelo assassinato de uma mulher em 1209, que a Universidade dará, em 1214, os primeiros passos no sentido da independência [...].
Como é que as corporações universitárias sairam vitoriosas destes combates? Antes de mais, pela sua coesão e determinação.


LE GOFF, Jacques - Os Intelectuais na Idade Média