Achegas ao Holocénico.
A narrativa histórica tornou-se tema de pelo menos dois debates, que têm ocorrido independentemente, apesar da relevância de um para o outro. Em 1º lugar, há a conhecida e longa campanha de oposição entre os que afirmam, como Fernand Braudel, que os historiadores deveriam considerar as estruturas mais seriamente do que os acontecimentos, e que aqueles que continuam a acreditar que a função do historiador é contar uma história. Este tópico não vou desenvolver. Avancemos para o segundo.
O 2º debate teve início nos EUA, nos anos 60, mas nunca teve tanto destaque como o 1º, talvez por parecer meramente literário. Não está preocupado com a questão de escrever ou não a narrativa, mas com o problema do tipo de narrativa a ser escrita.
Em 1º lugar, poderia ser possível tornar as guerras civis e outros conflitos mais inteligíveis, seguindo-se o modelo dos romancistas que contam as suas histórias, partindo-se de mais do que um ponto de vista. Para permitir que as "vozes variadas e opostas" da morte sejam novamente ouvidas, o historiador necessita, como o romancista, de praticar a "heteroglossia."
Em 2º lugar, cada vez mais historiadores estão a começar a perceber que o seu trabalho não reproduz "o que realmente aconteceu", tanto quanto o representa de um ponto de vista particular. Para comunicar essa consciência aos leitores de História, as formas tradicionais de narrativa são inadequadas. Os narradores históricos necessitam de encontrar um modo de se tornarem visíveis na sua narrativa, não de auto-indulgência, mas advertindo o leitor de que eles não são omniscientes ou imparciais e que outras interpretações, além das suas, são possíveis.
Em 3º lugar, um novo tipo de narrativa poderia, melhor que as antigas, fazer frente às demandas dos historiadores estruturais, ao mesmo tempo que apresenta melhor um sentido do fluxo do tempo do que em geral o fazem as suas análises.
(Bibliografia: BURKE, Peter - A história dos acontecimentos e o renascimento da narrativa)