maio 08, 2004

Objectividade subjectiva

Os factos de que a ciência se ocupa são factos seleccionados e construídos. Esta é hoje uma afirmação admitida por todo o mundo, mas tempos houve em que teria chocado profundamente o cientista positivista, esse homem de ciência que se considerava conhecedor, segundo ele próprio dizia, de “factos puros”.

Mas se há que reunir “factos puros” surge imediatamente uma questão: quais os factos a recolher? Uma opinião banal ficaria satisfeita em dizer: os que estiverem relacionados com a investigação em curso. É então necessário que tenhamos formulado previamente a ideia do que vamos recolher. Ou seja, para um positivista a ciência observaria o que realmente acontece, mas na realidade ela só estuda o que captam os métodos científicos e observa tal como eles o captam.

Em História não conhecemos, nem podemos conhecer, a realidade histórica em si, i.e., “como realmente aconteceram as coisas”, se nesta frase “realmente” quer dizer com “independência de todo o observador que as contemple”. Das coisas da história não conhecemos mais do que o que nos é apresentado na sua relação com nós próprios, na sua selecção pelo sujeito que as submete à nossa observação – o historiador que as interpreta. Tal como disse Heisenberg da física: “Na ciência o objecto da investigação não é a natureza em si mesma, mas sim a natureza submetida à interrogação dos homens.”