Miriam Halpern Pereira, historiadora e ex-directora da Torre do Tombo, escreve hoje no Público a propósito dos arquivos nacionais (em particular dos da administração central). Deixo-vos aqui um parágrafo desse texto, convidando-vos a todos a lê-lo na íntegra. Isto é mais do que uma notícia sobre cultura e património... Trata-se duma questão de cidadania. O estado dos arquivos nacionais espelha o estado do país!
"O resultado está patente na acumulação de centenas de quilómetros da documentação da administração pública, já avaliada ou não, dispersa em inúmeros depósitos, localizados maioritariamente na área de Lisboa, e com particular incidência na sua zona nobre. O seu acesso está naturalmente vedado ao público. Nos depósitos do conjunto da administração pública encontra-se documentação que remonta nalguns casos ao século XVIII, embora o grosso date do século XIX e de todo o século XX, como permite conhecer com rigor o "Diagnóstico aos arquivos da administração pública" (IANTT/OAC, Janeiro, 2004)."
E quem tem a oportunidade de visitar um destes arquivos (ainda que fechados ao público), como eu tive há duas semanas atrás, consegue não só comprovar o quão verdadeiras são estas afirmações, como sentir um misto de revolta e profunda tristeza pelo pouco interesse que o País manifesta pela preservação da sua memória e, portanto, da sua identidade. Quem um dia estudar o século XX, o século da informação, poderá vir a confrontar-se com uma paradoxal falta de fontes históricas (pelo menos de determinado tipo).
É o País que temos, mas nós também somos País...