Noticía o sitio do jornal Público, na secção "Última Hora" de hoje, que "mais de mil chefes de laboratório do sector público francês apresentaram hoje a sua demissão em protesto contra o que consideram ser a "asfixia financeira" da investigação científica no país."
Pelos vistos, a realidade portuguesa encontra semelhanças noutros países da União Europeia. Mas só em parte. Um elevado número de laboratórios de I&D (Investigação e Desenvolvimento) existentes no nosso país estão localizados em Universidades. O seu financiamento provém sobretudo da Fundação Ciência e Tecnologia (FCT), organismo do Ministério da Ciência e Tecnologia (agora também do Ensino Superior). Ou seja, nesses laboratórios trabalham sobretudo professores universitários e bolseiros de investigação.
O financiamento das unidades e dos projectos por elas apresentados está sujeito a uma comissão de avaliação. Os critérios dessa avaliação são teoricamente objectivos (como já disse há tempos, humanamente objectivos, ou seja, subjectivos). Quem conhece o meio, sabe que para quem faz parte destas comissões é a oportunidade de ajustar contas do passado e do presente, mas também de reforçar laços clientelares e alimentar certas redes de solidariedade e dependência...
Se, por cá, os presidentes das Unidades I&D se demitissem, não me parece que isso afectasse o mercado bolsista... Ou seja, quero eu dizer que o governo não se sentiria minimamente pressionado. Os demissionários continuariam a exercer as funções docentes e a realizar as suas investigações individuais e a prosseguir na carreira. Além destes, iriam os bolseiros demitir-se? Pagam-lhes mal, não têm grande protecção social, têm vínculos frágeis... Se se demitissem contratar-se-iam outros. O que não faltam são recém-licenciados desempregados.
Mas realmente o que falta em Portugal são acções de coragem e de um aparente radicalismo. Já é tempo de parar de falar por detrás das portas e denunciar o que funciona mal. Já é tempo de os docentes e investigadores universitários se unirem por causas comuns. Sei que isso é quase utópico. Iriam certamente surgir atritos, e não lhes convém arriscar... Afinal há sempre uma prova de doutoramento ou agregação que ainda falta fazer...