Era noite de Domingo. Sentado à mesa, ia folheando uma vez mais o jornal enquanto trocava umas palavras com a minha mãe. A televisão permanecia ligada. Estava a dar um programa onde cada suspiro do apresentador provocava grandes risos na audiência. Achei o fenómeno interessante e parei para lhe dar atenção. Entretanto chega uma nova convidada. Pela segunda semana consecutica ia ao programa. Cada gesto dela provocava grandes gargalhadas nos presentes. Olhava para a minha mãe e abanava a cabeça. Voltava a dar atenção ao ecrã, sobretudo procurando entrar no mundo da convidada. Pela segunda semana, o apresentador convidou a Loucura para fazer espectáculo.
Senti-me incomodado. Revoltado até. Achei tão chocante como qualquer imagem de guerra. Chocado com a atitude do comediante. Chocado com a alienação do público.
Desconheço a história de vida da senhora, já com alguma idade. Mas sei que deveria ser mais respeitada nesse mundo mental paralelo em que vive.
Herman comportou-se como um miúdo. Um miúdo mau, que troça com o colega que usa óculos ou tem uma deficiência numa perna. Não sabe Herman, que ainda poderá (ou alguém próximo de si) vir a sofrer de, por exemplo, Parkinson ou Alzheimer. Não sabe, ou não quer saber...
Disse à minha mãe que qualquer dia fazia as malas e ia-me embora daqui. Respondeu-me dizendo que o mundo estava todo assim.
Pois está. Pois está...