março 04, 2004

Objectividade?

Há uns anos, um dos mais conceituados físicos, Schrodinger, lançava, como título de um dos seus trabalhos, uma questão que teria deixado espantado qualquer físico clássico do século XIX: “A ciência natural está condicionada pelo meio?” Perante a imagem objectiva e impessoal do conhecimento físico, o autor chegava a conclusões contrárias: entre um número praticamente ilimitado de experiências possíveis que em cada momento o investigador poderia levar a cabo, este começa por eleger apenas as que lhe interessam; assim, perante a disposição momentânea dos nossos interesses e o seu papel determinante na direcção do trabalho posterior, abre-se uma porta de acesso a uma inegável subjectividade. Essa experiência que, entre tantas outras possíveis, se leva a cabo, não está determinada por outras experiências anteriores, mas sim, segundo aquele mesmo físico, principalmente pelas ideias que elaboramos acerca dessas experiências. Por seu turno, as experiências precedentes foram escolhidas pelas ideias a elas ligadas, e assim sucessivamente. Deste modo, o aparecimento, procedente por via inspirativa, duma ideia original, altera o interesse pelas investigações a praticar e altera o campo da obervação.
Ou seja, a observação de factos e, em consequência, do sistema de conhecimentos que dela deriva, estão condicionados por uma ideia prévia, e isso constitui um limite para a objectividade pura.