março 03, 2004

"Niquices": o facto histórico (II)

Parece que o meu post "Niquices" não foi tão esclarecedor como pensei esta manhã. Assim, vou tentar explicar o que se entende por "facto individual" em História.

Quando lemos num relato da guerra de independência espanhola a expressão “batalha de Bailém” estamos dispostos a entendê-la como menção a um facto altamente individual. Mas a verdade é que para compreendermos esta batalha, mesmo prescindindo de certos pormenores, necessitamos de ter em atenção outros factos que se produziram antes ou depois, ou até ao mesmo tempo: relacionamos os factos históricos entre si. Aquela batalha, isolada, não nos dirá muito, teremos que a estudar inserida numa cadeia de factos a que chamamos Guerra de Independência. Neste exemplo, onde está o individual? Na “Guerra de Independência”? Na “batalha de Bailén”? Ou nas acções singulares de cada combatente?
Ou seja, o feito isolado de um indivíduo não é compreensível para a história. O que a história nos pode dar a conhecer não são factos de indivíduos isolados, nem factos absolutamente individuais, soltos, mas sim encadeamentos, conjuntos de factos, ou seja, estruturas configuradas de determinada maneira.

Em suma, conhecer uma realidade histórica, captar o seu sentido, é tornar inteligível a relação entre as partes e o todo, nesses conjuntos que constituem o objecto da história. Não se trata, porém, de uma análise dos testemunhos em si mesmos, já que nunca descobriríamos o seu sentido isoladamente, mas sim na conexão com outros testemunhos que o conjunto nos oferece.

Espero ter sido mais claro desta vez. E se dúvidas houver, que surjam... Mas uma advertência: eu não sou especialista na matéria.