março 31, 2004

Reflexão

Foi bom hoje ter estado "bloguisticamente" inactivo. Alguma ansiedade provocada por motivos pessoais, familiares e académicos fez com que em algumas opiniões aqui expressas, e sobretudo nos comentários em blogues amigos, me tenha excedido. Nunca pretendi reflectir aqui sobre casos em particular. Nunca pretendi ser o "contra-informação" da Faculdade de Letras do Porto. Se aqui apresentei casos concretos, foi sempre com a intenção de reflectir sobre o ensino superior em geral. Admito que nem sempre tenha conseguido cumprir tal objectivo. Orgulho-me em ser licenciado pela FLUP. Tenho orgulho por estar a frequentar aquele que é, porventura, o mais exigente mestrado em História do país. Tenho orgulho nos meus mestres. E se de forma mais "apaixonada" (no sentido que lhe davam os "modernos") aqui me exprimi, foi porque sinto com tristeza a apatia que se instalou em alguns sectores daquela instituição.

Assim, procurarei, no futuro, continuar a reflectir sobre o ensino superior, mas de forma mais serena e objectiva. E sempre que considere não poder apresentar em público todos os meus argumentos e divulgar os factos de que sou conhecedor, então permanecerei em silêncio.

Hoje...

...acordei sem o despertador, já a manhã ia longa. À minha espera estava a mais velha. Hoje exigiram que desempenhasse o meu papel de "pai pequenino". Hoje a minha atenção vai toda para elas. Hoje não escreverei nada sobre a Universidade. Hoje vai tudo para elas.

março 30, 2004

Ela vem aí...

Informou-me a 1poucomaisdeazul da seguinte notícia:

ANADIA – Universidade a um passo da Curia


O projecto da universidade para a Curia vai ser apresentado quinta-feira. O pólo da Lusíada deverá ficar no Hotel Boavista.
A Universidade Lusíada vai mesmo instalar–se na Curia. A apresentação do projecto, está marcada para a próxima quinta–feira, pelas 17H00, no Museu do Vinho da Bairrada, em Anadia, com o presidente da Fundação Minerva, proprietária da Lusíada, e o reitor da universidade privada.
O pólo da Curia, que deverá ficar instalado no actualmente desactivado Hotel Boavista, privilegiará cursos virados para a economia bairradina: enologia, vitivinicultura, recursos hídricos, termalismo ou turismo. Estas são algumas das áreas que, de acordo com um estudo da Universidade, terão sido apontadas pelos agentes económicos como prioritárias.
Com vista à execução do projecto, a Fundação Minerva e a Câmara Municipal de Anadia assinaram um protocolo de cooperação, no qual a autarquia se comprometeu a encontrar as instalações, bem como a responsabilizar–se por eventuais défices nas contas anuais deste pólo da Lusíada.
Um projecto que recebeu, igualmente, o apoio de todos os responsáveis dos partidos com representação na Assembleia Municipal de Anadia.
Litério Marques apresentou, desde o início, o projecto de instalação de um pólo da Universidade Lusíada no concelho como algo de “grande importância para a região” e o argumento foi bem acolhido por toda a oposição. PS e PP garantiram mesmo “estar com o presidente da Câmara nesta matéria, sublinhando que o estabelecimento de ensino já vem tarde”.
A proposta feita pela Fundação Minerva, detentora da Universidade Lusíada, à ministra da Ciência e do Ensino Superior, requere a criação da Universidade Técnica Lusíada do Centro, na Curia, com seis cursos de licenciatura - Aproveitamento de Recursos Hídricos, Ciências da Alimentação, Enfermagem, Enologia, Reabilitação e Termalismo e Segurança e Higiene no Trabalho - e outros sete cursos de especialização tecnológica pós–secundária: Aplicações Informáticas de Gestão, Qualidade Ambiental, Marketing Industrial, Instalação e Manutenção de Redes e Sistemas Informáticos, Gestão de Animação Turística, Manutenção Industrial e Tecnologia Mecânica.
O facto de já se falar, desde a década de 90, na criação de uma universidade no concelho terá sido fundamental para unir todos os partidos políticos em torno da Lusíada. Litério Marques garantiu mesmo que “nunca se esteve tão perto de concretizar este objectivo”, assim aprove o Ministério da Ciência e Ensino Superior. E a cerimónia de quinta–feira é disso uma prova.

In Jornal As Beiras (29/03/2004)

Eu lá estarei 5ª feira. Levarei vários exemplares do meu curriculum. Quem sabe... Se alguém da Universidade Lusíada ler isto, pode-me contactar directamente. Tenho a certeza que vão precisar de alguém da área de História. E Sr. Presidente da Câmara: vou passar um dias destes por aí para ver o Arquivo Municipal. Pode ser?

Parabéns colegas da FLUC!

Ainda recentemente me lamentei da falta de discussão existente na FLUP (Letras do Porto) sobre os problemas pelos quais atravessa neste momento, nomeadamente a dispensa de docentes e outras mais profundas que acabam por estar relacionadas. Soube através da Umpoucomaisdeazul, num comentário que fez no Professorices, que a FLUC (Letras de Coimbra) também se prepara para criar uma série de novos cursos. No entanto, aqui os alunos estão atentos, e os seus representantes nos diversos órgãos de gestão estão a ser interventivos, obrigando a um debate interno. Tenho quase a certeza que muitos professores concordam com os argumentos dos alunos. No entanto, por várias razões, não se pronunciam.

Parabéns aos meus colegas da FLUC!

E a propósito. Dirigentes da Associação de Estudantes da FLUP: parem de pintar tantas paredes e organizar tantas manifestações políticas (acho bem que tenham as vossas actividades no BE, mas tentem separar as águas) e promovam a discussão.

Representantes dos alunos nos órgãos da faculdade: têm ido às reuniões?

Representante dos discentes no Departamento de História: se não tinhas disponibilidade de tempo para ir às reuniões e exercer o teu mandato, porque te candidataste?

Lamento ser aluno de uma faculdade e não poder participar em nada. A Democracia ainda está verde...

Notícias sobre a FLUC em:
http://www.asbeiras.pt/?area=coimbra&numero=14198&ed=30032004
http://www.diariocoimbra.pt/6810.htm

Cartoon

março 29, 2004

A ler

Hoje, no Público:

FACULDADES DE MEDICINA. TEMOS NECESSIDADES DE MAIS?

Por Manuel J. Antunes, Professor Catedrático e Director de Serviço dos Hospitais da Universidade de Coimbra

Novas licenciaturas

A Universidade do Porto aprovou a criação de CINCO novas variantes do curso de Línguas e Literaturas Modernas, que se vêm juntar às 8 já existentes: Língua Portuguesa (ensino de Português Língua Estrangeira); Português - Língua, Literatura e Cultura; Estudos Franceses; Estudos Anglo-Americanos; Estudos Alemães.

Também na licenciatura em Estudos Europeus foram criadas duas novas variantes: Línguas e Relações Internacionais; Comunicação Intercultural e Tradução.

março 28, 2004

Obrigado...

...ao professor João por ter lançado a ideia de um estudante criar um blogue sobre o ensino superior, pelo diálogo e, também, por me ter ensinado a colocar imagens no blogue.

...a todas as pessoas que por aqui passam e deixam comentários. Na verdade, além de por cá passarem dizem sempre olá, dão a sua opinião, cumprem o objectivo deste blogue - "Vamos falar?". Aos meus dois leitores de Coimbra, cidade onde me fui refugiar para fazer um trabalho de investigação que me tem dado muito prazer e que me faz feliz: à Azul e ao MJMatos. Ao José, que tem andado menos interventivo, mas que espero continue a passar por cá. Ao Holocénico, que escreve de forma inteligente e aliciante. À Cassandra, recentemente aqui chegada, mas muito participativa. E ao Alex, autor de um blog que me faz lembrar o museu de Santa Maria de Lamas, vá-se lá saber porquê...

Aos que por aqui passam frequentemente, digo-lhes hoje "Olá! Podem entrar e falar...mal ou bem, mas falar..."

Ausência de discussão

Os despedimentos na Faculdade de Letras da UP já são realidade. O reitor deve estar a esfregar as mãos de contente e já o imagino no próximo ano lectivo: "Lindos meninos, portaram-se muito bem. Agora vamos lá a despedir mais meia dúzia...".



Mas não é a atitude do residente na D. Manuel II que me indigna. É a da Conselho Directivo, Conselho Pedagógico e outros órgãos da FLUP. Nomeadamente dos Departamentos visados. Certamente que haveria excesso de docentes em algumas áreas. Mas a questão nunca foi discutida internamente. Nunca houve uma reunião com todos os professores da faculdade. Os departamentos entregaram a lista de dispensáveis sem se basearem em qualquer tipo de critério objectivo, científico até. Nos serviços da reitoria ninguém nos consegue informar onde está a lei que enquadra o regime de rácios... Enfim, o processo tem sido uma grande trapalhada, com regras nem sempre muito claras.

Se a Faculdade de Letras da UP não serve para nada, fechem-na. Assim vão todos para a rua.

março 27, 2004

Psicodrama

Jornalistas e políticos são especialistas em difundir anacronismos e a empregar erradamente determinadas palavras ou expressões. Uma dessas palavras é "psicodrama", em frases do tipo "Portugal vive um verdadeiro psicodrama!"

Mas eles sabem o que é "psicodrama"?

História e Arqueologia

Até há bem pouco tempo, numa determinada faculdade de Letras, para além da licenciatura em História (propriamente dita), havia duas variantes: em Arqueologia e História de Arte. A divisão ocorrida no seio dos docentes de História deu origem a dois departamentos: o de História e o de Ciências e Técnicas do Património. Por sua vez, as variantes deram origem a duas novas licenciaturas: em Arqueologia e em História de Arte. A cisão departamental já aqui foi comentada. Por comentar ficou o curriculum das duas novas licenciaturas. Não vou desenvolver muito o problema.

Referindo-me apenas à licenciatura em Arqueologia, é minha opinião que se criou um curso excessivamente técnico, com pouco conteúdo científico, nomeadamente da área disciplinar de História. As leituras dos excelentes textos reflexivos do Holocénico têm-me feito reflectir ainda mais nesta questão. Um dos seus textos fala da quase ausência de reflexão epistemológica nessa área. Na instituição em questão, oferece-se apenas uma disciplina que engloba História e Teoria da Arqueologia. Remeto-vos para o blogue do Holocénico que está, sem dúvida, mais à vontade para debater esta questão (ainda que não concorde com tudo o que tem dito, nomeadamente nos comentários que fez no meu texto intitulado "Ciências").

Mas uma dúvida aqui fica: estarão os novos arqueólogos aptos para analisar, ou apenas para recolher e descrever, qual História positivista?

março 26, 2004

História: reconstrução do passado?

Afirma-se, frequentemente, que a missão da história seria a reconstrução do passado. A reprodução do pretérito seria o ideal do historiador, e ainda que praticamente inalcançável, actuaria como norma no seu trabalho. Todavia, têm pouco sentido quaisquer fórmulas que pretendem viver o passado. A história, enquanto conhecimento de factos humanos, não é uma reprodução mais ou menos ajustada desses factos. É sim uma interpretação desses, mediante a qual podemos compreender o seu sentido.

março 25, 2004

Ficamos a saber

O meu texto sobre a questão da avaliação dos professores suscitou algum debate. Fiquei a saber que sou lido por vários prof.s. E achei, por isso, curiosos alguns dos seus comentários. No entanto, reparei também que o problema em questão rapidamente resvalou para um outro: os "métodos" de entrada dos professores para a universidade. Parece, pois, pelos comentários, que as questões estão muito relacionadas. Parece-me, também, que os professores não acham muito boa ideia à avaliação do seu desempenho, ainda que raramente o admitam de forma directa. Fiquei foi sem saber o que pensam os meus colegas...

Mas vamos então discutir, se é isso que pretendem, o modo como entram os professores na Universidade. Deixo algumas sugestões de possibilidades de que tenho conhecimento real:

- por mérito próprio.

- família de A tem boa relações com o bispo. Existe um professor que é clérigo na vice-reitoria. Bispo escreve a vice-reitor. Logo, filho de A torna-se professor da universidade (nem vos digo nem vos conto como descobri esta, mas vi a "prova").

- B tem ligações com a Maçonaria. O pai de C também tem. Logo, C torna-se professor da universidade.

É meu desejo ser lido apenas pelos que se incluem na primeira opção.

Ciências

Anda por aí muito boa gente das "Ciências" a falar de nós, dos das "Humanidades", utilizando ideias a que já estamos habituados. Para eles, o conhecimento das "ciências" é mais objectivo e difícil de alcançar do que o das "Humanidades". Para eles, "Humanidades" é escrita, é arte, é literatura. Para eles, "Ciências" é que é o verdadeiro saber, totalmente distinto do das Letras. Cada um deveria falar daquilo que sabe...

Agora, ciência sem aspas:

Não se pode pretender que em qualquer ciência se esgote o saber da realidade, nem mesmo duma esfera da realidade. Permanece sempre algo de inalcançável. Não há ciência que possa constituir-se em fundamento, síntese ou coroação do saber. A ciência não tem a faculdade de engendrar por si mesma nenhuma totalidade espiritual. Essa totalidade só pode dar-se num saber que, precisamente pela sua condição criativa, suprema e total, não pode ter as condições do saber científico.

março 23, 2004

Criminologia

A Universidade do Porto vai passar a oferecer uma licenciatura em Criminologia. Alguém de Direito quer comentar?

Avaliação dos professores

O último texto do Que Universidade? fez-me lembrar um bom tema para dicussão: a avaliação dos professores.

Todos parecem concordar (ou pelo menos dizem que sim) com a avaliação dos professores. Na minha faculdade, chegados ao fim do ano lectivo, eramos convidados a preencher um inquérito, com vários tópicos, em que se avaliavam os professores. Recordo-me também de ver os resultados desses inquéritos, que depois eram disponibilizados a todos. Apercebi-me então de que os meus colegas nem sempre eram honestos nas suas respostas. É verdade que existem aspectos que são subjectivos. Mas a assiduidade do professor não é um deles. Ou é ou não é assíduo. Ao não terem uma opinião favorável em relação a determinado professor ("dar más notas" é sempre um critério-chave), acabavam por ficar conscientemente "cegos" e avaliam-no negativamente, mesmo em aspectos que não correspondem à realidade. Em suma, avaliação pelos alunos? Sim. Mas que avaliação? Que peso dar a essa avaliação?

Uma outra alternativa é a avaliação por uma equipa de professores de outras instituições. Hoje, na instituição que conheço, estas equipas avaliam o curso, não os docentes de forma individual. No entanto: hoje avalio o teu curso, amanhã serás tu a avaliar o meu...

Avaliação pelos colegas da mesma instituição? Já estou a imaginar os grupos a funcionarem mais uma vez. Em dois sentidos até. Avalio-te a ti, tu vais avaliar-me a mim... Mas também: és do grupo de A, eu do grupo de B. O meu grupo tem mais "poder". Não gosto de ti. Logo: quando te avaliar vamos ter muito que conversar...

Avaliação dos professores? Sim. Mas que avaliação?

março 22, 2004

Adenda ao balanço

A Universidade do Porto veio a Público dizer que a mostra foi visitada por 7 mil pessoas. É esse o balanço? Se o objectivo da feira é ser uma espécie de "ciência divertida" ou fazer pseudo-consultas médicas, então o objectivo talvez tenha sido cumprido e o balanço positivo. Exceptuando os laboratórios "estrela" da universidade (que nem precisam de mostras para darem a conhecer o que fazem), alguém ficou a saber que projectos de investigação as unidades têm em curso? Ou dois ou três aquários e meia dúzia de microscópios enchem o olho? Se é para demonstrar como são as aulas práticas, então está bem... Ficamos é sem saber o que há para além das aulas...

março 21, 2004

Mostra da UP - Balanço

Termina hoje a II Mostra da UP. Uma atitude de publicidade e marketing. Uma atitude digna de uma empresa. Com duas grandes diferenças: uma empresa teria um público alvo e no final faria um balanço da "feira". Valerá a pena o investimento?

Por outro lado, assistiu-se a comportamentos tipicamente políticos por parte de reitores e vice-reitores. A reforma da Universidade deveria também passar por um novo modelo organizacional. Pelo menos deveria ser discutido. Será que alguém se atreve? Interessará a alguém mexer no actual modelo?

março 19, 2004

Foi há um mês!

Ligeiramente cansado, depois de um dia nessa cidade onde para chegar à Universidade se tem que enfrentar um caminho não muito longo, mas íngreme, resolvi vir até cá. Afinal, O Fio de Ariana surgiu há um mês. Pretendia ser um espaço de reflexão sobre o ensino superior, cujo anfitrião era um aluno. Professorices já tinhamos. Esse era o objectivo principal: a visão do aluno. Cumprido? Nem por isso. Vejamos...

Quando há minutos entrei em casa esperava-me a correspondência. No contexto de uma política de marketing que a Universidade do Porto tem levado a cabo, enviaram-me a Revista dos Antigos Alunos da UP. Ainda não a li com atenção, mas reparei que os textos são todos de professores da UP. Curioso... Mas não é por isso que a revista vem ao blogue. Fez-me lembrar que eu já sou um antigo aluno, ainda que continue na mesma instituição em formação pós-graduada. Alunos são, afinal, os de licenciatura.

Julgo, pois, que não represento ninguém. Não posso dizer que a minha opinião sobre o ensino superior seja idêntica à de muitos da minha idade. Aliás, não raras vezes ao longo dos anos de licenciatura constatei que a minha visão era minoritária. Já é um hábito. Colegas havia que até parecia que nem me viam como tal. Apesar de tudo, nunca percebi porquê...

Este foi, pois, um mês experimental. Sei que tenho leitores habituais. Tão habituais que até sei o nome, pelo qual se apresentam, de todos. Muitos outros terão passado por cá por mero acaso...

Foi há um mês.

março 18, 2004

Defender Monsanto

A C.M.Lisboa pretende instalar em Monsanto dois polos da Feira Popoular, um ao lado do Parque do Alvito e outro no Parque do Calhau deixando este de existir. Para além disso pretende também instalar o hipódromo com 30ha (aprox. 30 campos de futebol) com 400 cavalos numa área densamente florestada do Monsanto, para isso será necessário abater todas as árvores dessa zona e terraplanar o terreno. Não concorda? Então demonstre o seu protesto:

21 de MARÇO
DOMINGO - 10.00 Horas


Passeio de bicicleta, passeio pedestre e actividades de escalada

Concentração no estacionamento do Parque da Serafina


Plataforma por Monsanto
Contactos: 96 273 09 39 ou 96 290 97 31

março 16, 2004

Aviso

Através de alguns comentários e até e-mails que me enviaram, apercebi-me que existe aqui um equívoco que, mesmo querendo eu manter o anonimato, tenho de esclarecer: eu não sou professor, nem do secundário nem da universidade. Nem sei onde foram buscar essa ideia... Estamos entendidos?

março 13, 2004

II Mostra da UP

II Mostra de Ciência, Ensino e Inovação da Universidade do Porto
Pavilhão Rosa Mota, 18 a 21 de Março, 10h-23h

Estão todos convidados a aparecer.

No entanto, Clio vai ter uma semana de muito trabalho. Assim, vemo-nos quando terminar a Mostra. Ou vemo-nos na própria Mostra. Prometo que se acontecer por lá alguma coisa digna de registo eu partilho.

Uma boa semana!

Letras com Saúde

Ontem estava a ver o Telejornal, quando reparo que, naquelas legendas que passam na parte inferior do ecrã, se anunciava que os estudantes de tecnologias de saúde alertavam para a necessidade de restringir a abertura de novos cursos, pois o mercado de trabalho dá sinais de começar a ficar com excesso de profissionais, além de que essa expansão põe em causa a qualidade da formação. Infelizmente a notícia não passou sob a forma de reportagem no noticiário, talvez pelas circunstâncias especiais que temos vivido desde a passada 5ª feira. Torna-se, pois, difícil comentar o assunto e a opinião dos colegas de saúde. O certo é que quando li o tal rodapé pensei "Que inveja. Estes tipos da Medicina e afins é que sabem zelar pelos seus interesses, e conseguem unir-se em torno desse objectivo." A este pensamento sucedeu-se a confusão mental: excesso de profissionais na área de saúde?!
Não vou aqui discutir os argumentos e reivindicações destes meus colegas. Vou é lamentar que não haja essa preocupação por parte dos estudantes e profissionais das ciências sociais e humanas/letras. Trata-se de uma área onde a oferta de profissionais é excessiva. Porquê?

Desde logo porque é fácil cursar letras. Admitamos. É fácil. Nem é preciso ir às aulas para poder passar. Nem que seja com um 10. Os professores limitam-se a dar aulas, não concebem objectivos para a sua disciplina e para o curso em geral. Não se exige espírito crítico. Priviligia-se a quantidade de conhecimentos adquiridos, em vez de se promoverem competências várias. Priviligia-se o reproduzir e não o produzir.

Tudo estaria bem se o mercado filtrasse entre os bons e os maus alunos que saem destas faculdades. Contudo, nem sempre os melhores conseguem emprego com maior facilidade. Saídos da faculdade, vale mais a rede de conhecimentos pessoais e familiares do que o certificado de habilitações.

As universidades e institutos privados também muito contribuiram para a actual situação, já que estes cursos não exigem laboratórios nem grandes investimentos com instalações. Há uns anos a oferta aumentou significativamente. No entanto, a Universidade Católica, em Lisboa, não abriu este ano o curso de Filosofia por falta de candidatos. A Universidade Portucalense, no Porto, não teve candidatos para o curso de História, apressando-se a publicitar Doutoramentos de três anos naquela área e a abrir uma licenciatura em Ciência da Informação (não confundir com Jornalismo...). Nas Universidades públicas tem-se também assistido a uma diminuição da procura destes cursos.

Por outro lado, as faculdades de letras têm funcionado como escolas superiores de educação, já que os seus alunos não têm grandes alternativas para além do ensino. E todos conhecemos a situação profissional de muitos professores...
Aqui há uns dias critiquei a posição de um jornalista, quando este afirmou que o país não precisava de um ministério da Cultura. Mas a verdade é muitos são os que em Portugal pensam da mesma maneira. E um país que promove a mediocridade não necessita de pessoas que saibam pensar.

Custa-me a acreditar que um país possa sobreviver sem bons licenciados em filosofia, sem bons geógrafos ou sem bons historiadores. Custa-me a acreditar que um país consiga avançar sem bons conhecedores da nossa língua e literatura (e que evitem o que se tem passado com os manuais do ensino secundário...).

Julgo que toda a oferta de cursos tem que ser repensada. Ministério, instituições (públicas e privadas) e outras entidas interessadas deviam promover um debate profundo acerca desta questão. E depois haveria que tomar medidas. Mesmo que isso passasse pelo encerramento de cursos. Mas sobretudo há que aumentar a exigência dos cursos, de forma a que possamos ter bons profissionais.

março 12, 2004

Estágios de enfermagem

"Há hospitais SA a receber alunos de enfermagem de escolas privadas para estágios mediante pagamento de uma percentagem da propina. As escolas públicas dizem que têm cada vez mais dificuldade em dar estágios aos alunos e que esta prática viola uma obrigação legal: o Ministério da Saúde deve assegurar, através do Serviço Nacional de Saúde, a formação prática dos futuros profissionais. Um princípio constante do decreto lei 99/2001, de 28 de Março, que determina as condições de aprendizagem dos enfermeiros."

A notícia é do DN de hoje, e vale a pena ser lida na íntegra.

março 11, 2004

Quem foi...

Quem foi D. António da Costa?

Não, não há ajudas... nem trunfos, mas pode duplicar. Diga lá então...

Bolonha e o Financiamento

Traz o Públido de hoje mais uma notícia a propósito de "Bolonha" e da futura duração dos cursos do ensino superior.

Dizem José Ferreira Gomes, vice-reitor da Univ. Porto, e Pedro Lourtie, ex-secretário de Estado do Ensino Superior e docente do Instituto Superior Técnico, que "enquanto a actual legislação definir o financiamento por aluno e apenas durante o 1º ciclo de estudo, "toda a gente vai estender o curso o mais possível". "Deste ponto de vista, a discussão está enquinada", critica Ferreira Gomes."

Tal como alertei no segundo post que aqui apresentei, actualmente o número de alunos dos mestrados e doutoramento em nada conta para a fórmula de financiamento e estabelecimento do rácio nºalunos/professor. Mais uma vez alerta-se: cuidado com as reformas parciais... O ensino superior tem mesmo que ser pensado de forma global, bem como as alterações que se lhe pretendem introduzir. Não se pode pensar o financiamento hoje, o despedimento dos professores amanhã, alterar fórmulas um dia destes...

março 09, 2004

Cientistas franceses demitem-se

Noticía o sitio do jornal Público, na secção "Última Hora" de hoje, que "mais de mil chefes de laboratório do sector público francês apresentaram hoje a sua demissão em protesto contra o que consideram ser a "asfixia financeira" da investigação científica no país."

Pelos vistos, a realidade portuguesa encontra semelhanças noutros países da União Europeia. Mas só em parte. Um elevado número de laboratórios de I&D (Investigação e Desenvolvimento) existentes no nosso país estão localizados em Universidades. O seu financiamento provém sobretudo da Fundação Ciência e Tecnologia (FCT), organismo do Ministério da Ciência e Tecnologia (agora também do Ensino Superior). Ou seja, nesses laboratórios trabalham sobretudo professores universitários e bolseiros de investigação.
O financiamento das unidades e dos projectos por elas apresentados está sujeito a uma comissão de avaliação. Os critérios dessa avaliação são teoricamente objectivos (como já disse há tempos, humanamente objectivos, ou seja, subjectivos). Quem conhece o meio, sabe que para quem faz parte destas comissões é a oportunidade de ajustar contas do passado e do presente, mas também de reforçar laços clientelares e alimentar certas redes de solidariedade e dependência...
Se, por cá, os presidentes das Unidades I&D se demitissem, não me parece que isso afectasse o mercado bolsista... Ou seja, quero eu dizer que o governo não se sentiria minimamente pressionado. Os demissionários continuariam a exercer as funções docentes e a realizar as suas investigações individuais e a prosseguir na carreira. Além destes, iriam os bolseiros demitir-se? Pagam-lhes mal, não têm grande protecção social, têm vínculos frágeis... Se se demitissem contratar-se-iam outros. O que não faltam são recém-licenciados desempregados.

Mas realmente o que falta em Portugal são acções de coragem e de um aparente radicalismo. Já é tempo de parar de falar por detrás das portas e denunciar o que funciona mal. Já é tempo de os docentes e investigadores universitários se unirem por causas comuns. Sei que isso é quase utópico. Iriam certamente surgir atritos, e não lhes convém arriscar... Afinal há sempre uma prova de doutoramento ou agregação que ainda falta fazer...

Medicina Insular

"Os primeiros cursos superiores de Medicina nos Açores e na Madeira avançam mesmo no próximo ano lectivo. Após uma reunião realizada ontem entre a tutela e os responsáveis das duas universidades, ficaram acertadas as medidas práticas que possibilitarão a concretização dos protocolos, anunciou em comunicado o Ministério da Ciência e do Ensino Superior (...). Ainda que o comunicado do MCES não refira o número de vagas que serão abertas em 2004/2005, fontes dos dois estabelecimentos de ensino tinham já avançado que o número de novos lugares seria de 20 nos Açores e 35 na Madeira."
In Público, 09/03/2004

Devo confessar que o que li não me esclareceu o suficiente. Mas parece-me que o Governo não se prepara para abrir dois cursos de Medicina nas ilhas, mas sim descentralizar o ensino ministrado em Coimbra e Lisboa. No entanto, não percebi muito bem como é que em termos práticos isto vai funcionar. Com professores das duas universidades do Continente? Não seria mais fácil apoiar os estudantes que vêm estudar das ilhas para cá?
Por outro lado, parece que o processo está a decorrer depressa demais, segundo dizem alguns dos envolvidos.

Aproveito para dizer que algo de positivo seria a mobilidade interna dos estudantes universitários. Uma espécie de Erasmus em território nacional.

A Loucura

Era noite de Domingo. Sentado à mesa, ia folheando uma vez mais o jornal enquanto trocava umas palavras com a minha mãe. A televisão permanecia ligada. Estava a dar um programa onde cada suspiro do apresentador provocava grandes risos na audiência. Achei o fenómeno interessante e parei para lhe dar atenção. Entretanto chega uma nova convidada. Pela segunda semana consecutica ia ao programa. Cada gesto dela provocava grandes gargalhadas nos presentes. Olhava para a minha mãe e abanava a cabeça. Voltava a dar atenção ao ecrã, sobretudo procurando entrar no mundo da convidada. Pela segunda semana, o apresentador convidou a Loucura para fazer espectáculo.
Senti-me incomodado. Revoltado até. Achei tão chocante como qualquer imagem de guerra. Chocado com a atitude do comediante. Chocado com a alienação do público.
Desconheço a história de vida da senhora, já com alguma idade. Mas sei que deveria ser mais respeitada nesse mundo mental paralelo em que vive.
Herman comportou-se como um miúdo. Um miúdo mau, que troça com o colega que usa óculos ou tem uma deficiência numa perna. Não sabe Herman, que ainda poderá (ou alguém próximo de si) vir a sofrer de, por exemplo, Parkinson ou Alzheimer. Não sabe, ou não quer saber...
Disse à minha mãe que qualquer dia fazia as malas e ia-me embora daqui. Respondeu-me dizendo que o mundo estava todo assim.
Pois está. Pois está...

março 08, 2004

Educação da mulher

O systema de educação que tende a generalisar-se, como meio de proporcionar á mulher portugueza emprego digno da sua actividade, tal como a profissão de medicina, pharmacia, advocacia, magisterio e outras suppõe um facto, que não é verdadeiro e que é que ella póde estudar com proveito as sciencias que habilitam para o exercicio d’estas profissões (1).

E no futuro? Veremos a mulher embebida na política, occupando uma cadeira no parlamento? Ve-la-emos advogada, perscrutando os artigos de codigo? Medica, ocupada em dificeis operações? Triste condição que a fatuidade de muitos nos quer fazer representar! [...] Mas a mulher nunca poderá mergulhar-se na politica, correr a vida estoica do médico, não; isto é demasiado duro... (2)

A mulher tem direito a uma existencia propria e independente. Este direito é legitimo, e todavia a lei social ainda hoje lh’o não garante. A vida collectiva da mulher é sem duvida a manifestação mais completa do seu fim; o casamento, a constituição da familia, a sua mais honrosa missão; mas nem por isso pode negar-se-lhe o direito á sua vida individual. O casamento depende sempre d’um conjuncto de circunstancias especiaes, a que nem todas as mulheres podem, ou desejam satisfazer.
Nestas condições o casamento é uma imposição illegitima, e as consequencias são sempre tristes.
A mulher precisa pois de receber uma educação bem ministrada, que lhe garanta a sua independencia, a sua vida individual, porque só assim serão satisfeitas as suas mais intimas aspirações, e ella poderá dignamente desempenhar a sua nobilissima missão. (3)


(1) SARAIVA, Evaristo – A educação da mulher – os institutos de ensino secundario do sexo feminino. Revista de Educação e Ensino. 4 (1891) 175.

(2) MARQUES, Conceição – Breves considerações sobre a mulher. Educação Nacional. 4 (1899) 70.

(3) ZEFERINO, A. – Instrucção publica. O Século (Universidade de Coimbra). [s.n] (1876/77) 24-26

março 07, 2004

Galinha de Alfitete

Porque hoje é Domingo, não vou falar da objectividade das ciências, nem dos cronicões da nossa praceta... A pensar na minha candidatura à docência na Universidade da Curia, apresento-vos algo que fará parte das minhas aulas práticas. Espero que a ideia agrade aos alunos...

Receita de Galinha de Alfitete:
"Para se fazer uma galinha de alfitete coze-se a galinha em um arrátel de toucinho, e cheiros, com todos os adubos, e pouca água, para que fique bem substância. Logo que estiver cozida se derreterá o toucinho, e se lançará em uma tigela baixa, em que se porá a galinha em quartos, para se corar em lume brando por baixo, e por cima. Como estiver corada, faça-se a massa fina de uma oitava de farinha com meio arrátel de açúcar, seis ovos, manteiga, e um golpe de vinho. Desta massa se irão fazendo uns bolinhos como folhas de louro, frigindo-se, e pondo-se em camas, com açúcar e canela por cima em um prato, até se encher, e em cima se porá a galinha.
Neste prato podem pôr-se ovos de aletria se quiserem.
Assim também se faz carneiro, pombos, frangos e cabrito."

RODRIGUES, Domingos - "Arte de Cozinha". INCM, 1987 (1ª ed. 1680).


Boa sorte... e bom apetite!

março 06, 2004

Ministério do Reinozinho

Pouco passava da meia noite. A SIC Noticias apresentava uma sondagem sobre a possível remodelação governamental. Dois comentadores habituais. Entre eles Luís Delgado. Que disse que para além da necessidade da remodelação, seria útil uma diminução do número de ministérios. Quais? Disse Luís Delgado (passavam nove minutos da meia noite) que o país não necessitava de uma ministério para a cultura nem para o ambiente. O jornalista não o deixou desenvolver muito a sua ideia (provavelmente ia acrescentar a ciência e tecnologia). Apenas pôde acrescentar que bastariam duas secretarias de estado para tais matérias. Se Luís Delgado vivesse no século XIX faria parte do grupo dos que então não defendiam a urgência de um Ministério da Instrução Pública. A criação de um Ministério da Justiça não lhe iria parecer necessária. Para tudo Durão Barroso pode então (re)criar o Ministério do Reino.

março 05, 2004

Medicina no fundo da "tabela"

"Na hierarquia dos saberes cujo ensino se professava nas chamadas faculdades maiores da Universidade, a Medicina ocupava o último lugar, depois da Teologia e dos dois Direitos. Esta posição tinha origem na consideração da dignidade dos respectivos objectos, mas advinha-lhe igualmente do seu carácter, quase misto, de ciência (procurando, como tal, a explicação causal dos fenómenos que analisava) e de arte (fornecendo um conjunto de preceitos tendentes à execução bem sucedida de técnicas curativas"

FONSECA, Fernando Taveira da - "A Medicina". In História da Universidade em Portugal. UC/FCG, 1997.

março 04, 2004

Nações Unidas? Eu?!

Antes de ir dormir tropecei neste site - http://bluepyramid.org/ia/cquiz.htm - fiz o teste e deu este resultado:

"You're the United Nations!Most people think you're ineffective, but you are trying to completely save the world from itself, so there's always going to be a long way to go. You're always the one trying to get friends to talk to each other, enemies to talk to each other, anyone who can to just talk instead of beating each other about the head and torso. Sometimes it works and sometimes it doesn't, and you get very schizophrenic as a result. But your heart s in the right place, and sometimes also in New York."

(É uma pena não saber colocar aqui imagens. No tal teste aparecia a bandeira da ONU).

Passem por lá e digam qualquer coisa...

Objectividade?

Há uns anos, um dos mais conceituados físicos, Schrodinger, lançava, como título de um dos seus trabalhos, uma questão que teria deixado espantado qualquer físico clássico do século XIX: “A ciência natural está condicionada pelo meio?” Perante a imagem objectiva e impessoal do conhecimento físico, o autor chegava a conclusões contrárias: entre um número praticamente ilimitado de experiências possíveis que em cada momento o investigador poderia levar a cabo, este começa por eleger apenas as que lhe interessam; assim, perante a disposição momentânea dos nossos interesses e o seu papel determinante na direcção do trabalho posterior, abre-se uma porta de acesso a uma inegável subjectividade. Essa experiência que, entre tantas outras possíveis, se leva a cabo, não está determinada por outras experiências anteriores, mas sim, segundo aquele mesmo físico, principalmente pelas ideias que elaboramos acerca dessas experiências. Por seu turno, as experiências precedentes foram escolhidas pelas ideias a elas ligadas, e assim sucessivamente. Deste modo, o aparecimento, procedente por via inspirativa, duma ideia original, altera o interesse pelas investigações a praticar e altera o campo da obervação.
Ou seja, a observação de factos e, em consequência, do sistema de conhecimentos que dela deriva, estão condicionados por uma ideia prévia, e isso constitui um limite para a objectividade pura.

março 03, 2004

"Niquices": o facto histórico (II)

Parece que o meu post "Niquices" não foi tão esclarecedor como pensei esta manhã. Assim, vou tentar explicar o que se entende por "facto individual" em História.

Quando lemos num relato da guerra de independência espanhola a expressão “batalha de Bailém” estamos dispostos a entendê-la como menção a um facto altamente individual. Mas a verdade é que para compreendermos esta batalha, mesmo prescindindo de certos pormenores, necessitamos de ter em atenção outros factos que se produziram antes ou depois, ou até ao mesmo tempo: relacionamos os factos históricos entre si. Aquela batalha, isolada, não nos dirá muito, teremos que a estudar inserida numa cadeia de factos a que chamamos Guerra de Independência. Neste exemplo, onde está o individual? Na “Guerra de Independência”? Na “batalha de Bailén”? Ou nas acções singulares de cada combatente?
Ou seja, o feito isolado de um indivíduo não é compreensível para a história. O que a história nos pode dar a conhecer não são factos de indivíduos isolados, nem factos absolutamente individuais, soltos, mas sim encadeamentos, conjuntos de factos, ou seja, estruturas configuradas de determinada maneira.

Em suma, conhecer uma realidade histórica, captar o seu sentido, é tornar inteligível a relação entre as partes e o todo, nesses conjuntos que constituem o objecto da história. Não se trata, porém, de uma análise dos testemunhos em si mesmos, já que nunca descobriríamos o seu sentido isoladamente, mas sim na conexão com outros testemunhos que o conjunto nos oferece.

Espero ter sido mais claro desta vez. E se dúvidas houver, que surjam... Mas uma advertência: eu não sou especialista na matéria.

Greve dos estudantes

Noticía o DN de hoje, que es estudantes das universidades e politécnicos marcaram nova greve nacional para o próximo dia 1 de Abril. A decisão, tomada no Encontro Nacional de Dirigentes Associativos (ENDA), que se realizou este fim de semana, pretende reatar a contestação contra a reforma em curso no ensino superior e, em particular, a lei do financiamento, que consagrou o aumento das propinas e o novo regime de prescrições.

Lamento que todo o esforço contestatário dos colegas estudantes se centre na lei do financiamento. A visão limitada que muitos colegas têm acerca dos problemas da Universidade é, assim, idêntica à do Governo. A reforma do ensino superior tem que ser muito mais do que isso. Ele tem problemas mais importantes, cujas repercussões não serão conjunturais mas sim estruturais.

"Niquices"

Um dos textos que aqui escrevi que obteve mais comentários e proporcionou uma interessante discussão, foi o relativo a José Hermano Saraiva. Rapidamente a discussão se afastou deste objecto e abordou muitos outros, todos eles relacionados com a problemática do saber histórico. Foi sobretudo o José quem iniciou e continuou o que bem poderia ser uma tertúlia no reaberto tripeiro Brasileira (ainda lá não fui, aceito convites). Foram lançadas inúmeras propostas de discussão, e por essa razão decidi lançar aqui o tema.
O tópico de discussão que escolhi para hoje inspirou-se directamente no último comentário do José:

"Aqui há uns tempos, dei com um jornal velho ( de 1972 ou 73) em que se escrevia sobre Aljubarrota de forma que hoje não me parece que seja corrente. Escrevia o articulista que nem sequer era especialista, que os portugueses gritavam "Por S. Jorge!" e os castelhanos " Por Santiago!" Quem é que hoje em dia se interessa por estas niquices?!"

A questão levantada pelo José pode ser traduzida, por exemplo, da seguinte forma: "O que é o facto histórico?", ainda que se levantem muitas outras questões que deixo para a discussão.

A história, já se disse muitas vezes, é a ciência do individual (não confundir facto individual com facto de um indivíduo)– se é que se pode aceitar uma ciência de tal. O geral diria respeito, nos actos humanos, à psicologia social, a certas áreas da sociologia. E como, mantendo-se o peso da tradição que condiciona o pensamento europeu desde Aristóteles, segundo a qual não há ciência a não ser do universal, se considerava que o individual não entra no conhecimento científico, não houve outro remédio senão concluir que a história ou não era uma indefinivel arte sintetizadora ou era mera técnica de documentação, resumindo, apenas, o material de observação para a síntese sociológica, a lei psicológica ou em certos autores, a interpretação filosófica. A história não seria mais do que a mera narração literária ou o conjunto de uma série de técnicas – paleografia, numismática, epigrafia, arquivística.... Tais ideias resultavam da confusão sobre o que quer dizer “ciência de factos”, não tendo em conta o que em qualquer ciência empírica há de interpretação teórica. Além disso, resultava do erro sobre o que quer dizer “ciência de factos individuais”, e, em último caso, do que significa o carácter individual dos factos históricos.
O individual histórico não está nos acontecimentos. Os acontecimentos (os próprios documentos, podemos dizer) que o positivismo considerava como factos, só se convertem numa realidade singular dentro dum conjunto e somente nele adquirem pecularidade. Não tem valor histórico, por exemplo, a armadura que Carlos V usou em Mulburg, uma armadura semelhante a tantas outras. No entanto, pode adquiri-lo e adquire efectivamente significado histórico numa conexão construída no plano da história do vestuário, com outros testemunhos que em si podem ser gerais, mas que no seu conjunto se individualizam. Tem-no, quando na história da cultura, ao observar que o Imperador, como o militar da época, se cobria com arnéis de protecção pessoal, relacionamos esse dado com outros que nos permitem chegar a uma conexão que poderíamos, por exemplo, enunciar assim: coexistência na época de Carlos V de elementos renascentistas com uma forte dose de espírito cavaleiresco.

Ou seja, o grito de ambos exércitos adquire valor se relacionado com outros elementos...

março 02, 2004

Bolseiros reclamam actualização de verbas

Os Bolseiros de Investigação Científica reclamam a actualização dos montantes das bolsas numa carta aberta à ministra da Ciência e do Ensino Superior, onde afirmam que, pelo segundo ano consecutivo, os valores se mantêm inalterados.
Segundo os bolseiros, a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) assumiu em 2002 o compromisso (que se mantém no seu Regulamento de Formação Avançada de Recursos Humanos) de proceder anualmente à actualização dos montantes das bolsas.
"Contudo, à actualização feita em 2002 (que, acrescente-se, não cobriu a desvalorização ocorrida nos anos anteriores), não se seguiu a devida em 2003 e, até ao momento, não foi anunciada qualquer actualização para 2004", indica o texto, a que a agência Lusa teve acesso.
Por isso, pelo segundo ano consecutivo, o valor real das bolsas de investigação diminuiu, sublinham.


In JN (02/03/2004)

Os Bolseiros de Investigação têm contribuído para o desenvolvimento científico do país, sem que a maior parte das pessoas dê por isso. E nem falo dos que têm bolsas para doutoramento. Falo daqueles que tornam possível a realização de inúmeros projectos em diversas áreas do saber. São mão de obra qualificada paga a baixo preço e sem outro tipo de benefícios sociais. Enfim, é o país que temos.

http://bolseiros.no.sapo.pt/

Fechem a Universidade!

A Universidade (pública) tem sido objecto, nos últimos anos, de profundas... preocupações financeiras. Os alunos protestam contra as propinas, os professores pelas restrições orçamentais. Sobretudo agora que algumas instituições ameaçam com despedimentos de docentes.
Entretanto multiplicaram-se os cursos, quer nas universidade privadas, quer mesmo nas públicas. Internamente, ocorreram divisões: criaram-se novos departamentos, a que não correspondem novas áreas científicas. Na ânsia duma escalada rápida na carreira atropelaram-se (e continuam) uns aos outros. Em alguns casos, diminui-se a exigência para não ver os alunos, a meio do curso, "fugirem" para instituições privadas ou até para outras públicas (!), onde sabiam que iriam ver as suas médias subirem.
Entretanto... entretanto pensou-se pouco sobre a Universidade. Pensou-se pouco na empregabilidade de determinados cursos, mas sobretudo nas competências que deveriam proporcionar.
Ultimamente tem-se falado de Bolonha. Por vezes para criticar o elevado grau de exigência de, por exemplo, alguns cursos de mestrado e pelo investimento pessoal que alguns fazem, enquanto "lá fora" se passa directamente para o doutoramento (e aqui também...). Daqui a uns anos a licenciatura vale tanto como a antigo 12º ano do Secundário e o Doutoramento aos antigos Mestrados.
Fechem a Universidade! Encerrem cursos, despeçam professores, dinamitem algumas instalações. Fechem a Universidade para balanço. Ou seja, REFORMEM verdadeiramente a universidade. De forma séria. Não em cima dos joelhos e com medo.
Pensemos todos a Universidade!

março 01, 2004

Tocou-lhes a eles... eles começam a mexer-se!

Abaixo-assinado para Discutir Dispensa de Professores

Um grupo de professores da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) não se conforma com as notícias que dão conta da dispensa de um número ainda não determinado de docentes contratados e está a promover um abaixo-assinado para que o assunto seja discutido numa assembleia de representantes (AR) extraordinária.

Até à próxima quarta-feira, o conselho científico da FLUP conta poder receber dos vários departamentos da faculdade o nome dos professores a dispensar. Através do abaixo-assinado, os promotores esperam obrigar o presidente da AR a agendar a discussão. "Um processo desta natureza é tão relevante para toda a comunidade académica que forçosamente tem de passar por uma discussão pública", comentou ao PÚBLICO um professor da FLUP.

"O processo em curso de dispensa ou não renovação de contratos de docentes contratados fora do quadro, se levado até ao fim, pode afectar entre 13 e 22 docentes da nossa faculdade", pode ler-se no documento de suporte à recolha de assinaturas em curso. Os professores da FLUP alegam ainda que, a verificar-se a não renovação dos contratos dos docentes, poderão criar-se "situações de rotura na oferta de formação" da faculdade. Lembram também que, pelo facto de a questão estar a ser tratada de forma diferente pelos vários departamentos - alguns recusaram-se a fornecer a lista de docentes "dispensáveis" -, poderá haver "situações discriminatórias".

O processo de dispensa de professores já confirmado pela Universidade do Porto deverá também abranger a Faculdade de Belas-Artes, que poderá perder quatro docentes. A reitoria justifica a medida com a necessidade de adequar o "ratio" professor-alunos, mas sublinha que está a cumprir orientações do Ministério da Ciência e do Ensino Superior.

A ministra Maria da Graça Carvalho já fez saber, contudo, que "estas opções [de dispensar professores] são apenas da responsabilidade das universidades".

In "Público" (01/03/2004)

Só um comentário: já sabemos que estas dispensas são meramente economicistas. Mas parém de atirar responsabilidades uns para os outros e assumam os actos!